FATOS DO BRASIL IMPÉRIO

Bem vindo ao blog FATOS DO BRASIL IMPÉRIO. Aqui são narrados fatos da época do Império, geralmente pouco conhecidos, extraídos do livro REVIVENDO O BRASIL-IMPÉRIO, que publiquei sob o pseudônimo Leopoldo Bibiano Xavier. Leitura muito útil, que dá uma visão realista do modo como o Imperador Pedro II conduzia os destinos do País.
Você está convidado a visitar também os sites referentes ao meu livro mais recente, A VOLTA AO MUNDO DA NOBREZA, que contém mais de 1.700 fatos mostrando a atuação da nobreza em diversos países e épocas:
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Leon Beaugeste

1.6.08

09 - HONRA E DIGNIDADE - A IMAGEM DO BRASIL

Nosso Imperador é admirado e respeitado no mundo inteiro


O Conde Soderini escreveu: “O Imperador do Brasil era amado em todo o mundo, e era naquele tempo, juntamente com o Papa, a maior autoridade moral entre os homens de todos os países”.

D. Pedro II foi objeto da maior veneração do Visconde de Taunay. Com a mais perfeita sinceridade, dizia:
— Valeria a pena ser-se brasileiro, só para se ter como soberano um Pedro II.

Elizalde, ministro de Estrangeiros da Argentina no governo de Mitre, declarava-se disposto a não se separar do Governo Imperial, no qual confiava: “Trata-se de um governo sério, presidido por um soberano de grande merecimento”.
Andrés Lamas, ministro de Estrangeiros do Uruguai, dizia: “Deposito uma fé cega, uma confiança sem limites, na inteligência e lealdade desse Soberano”.

Numa das mais sombrias fases da tirania de Rosas, conversavam Mitre e Sarmiento. Avassalado pelo desânimo, Mitre desabafou:
— Não há mais uma única esperança.
Sarmiento retrucou:
— Há sim. É o Imperador do Brasil.

Em 1882, agravara-se estranhamente o incidente com a Argentina, em torno da questão das “Missões”. Vozes surdas, nos dois países, exigiam a guerra. O ex-presidente argentino Nicolao Avellaneda veio em missão diplomática ao Brasil, sendo recebido por D. Pedro II. Ao final da conversa, o diplomata insistiu:
— O necessário é a paz, não a paz desconfiada da Europa, mas sincera.
— Leve ao seu país esta promessa minha. Enquanto eu for vivo, não consentirei na guerra. Necessitamos salvar meio continente. E salvaremos.
No dia seguinte a tempestade desvaneceu-se. Bastara o encontro de dois homens.

Em 1877, quando se iniciava a campanha política nacional nos Estados Unidos, o “New York Herald” relembrou a visita do Imperador, e apresentou a seguinte proposta: “Para nossa chapa Centenária, indicamos Dom Pedro II e Charles Francis Adams, para presidente e vice-presidente. Estamos cansados de gente comum, e sentimo-nos dispostos a apoiar gente de estilo”.

Por ocasião do casamento de uma filha, o banqueiro inglês Rothschild quis dar-lhe um presente de grande valor. O presente escolhido: apólices da dívida do Império brasileiro. Causou estranheza a escolha, e a alguém que lhe perguntou o motivo, respondeu:
— Isto vale mais do que ouro.


A dignidade e a honra da Nação: Sem honra não quero ser Imperador

Em dezembro de 1862, o plenipotenciário inglês no Rio de Janeiro começou a praticar uma série de violências, fazendo aprisionar diversos navios mercantes brasileiros. Christie alegava para isso o fútil motivo da prisão em terra de alguns marinheiros ingleses embriagados, e o não acatamento do Governo à sua reclamação relativa a um navio inglês naufragado nas costas do Rio Grande do Sul.
Na baía de Guanabara, os marinheiros das naus britânicas ali fundeadas mostravam com gestos insultuosos, aos passageiros das barcas de Niterói, a boca dos seus canhões. O povo, não podendo conter a sua justa indignação, dirigiu-se em massa ao Paço da Cidade, onde o Imperador se achava reunido com o Conselho de Estado. Milhares de vozes pediram que não tardassem as represálias à insolência do embaixador e dos marinheiros ingleses. D. Pedro, chegando a uma das janelas da frente, gritou:
— Calma, calma, senhores! Eu sou primeiro que tudo brasileiro, e como tal, mais do que ninguém, estou empenhado em manter ilesas a dignidade e a honra da Nação. E assim como confio no entusiasmo do meu povo, confie o povo em mim e no meu Governo, que vai proceder como as circunstâncias requerem, mas de modo que não seja ultrajado o nome de brasileiros, de que todos nos ufanamos. Onde sucumbirem a honra e a soberania da Nação, eu sucumbirei com elas. Confiem no meu Governo, e fiquem certos de que sem honra não quero ser Imperador!
O Brasil rompeu relações diplomáticas com a Inglaterra, e a questão foi arbitrada pelo rei da Bélgica, que nos deu plena razão.

Foi como vitorioso, e acompanhado de seus aliados argentinos e uruguaios, que o Imperador quis receber o pedido de desculpas da poderosa Grã-Bretanha. Em Uruguaiana, após a rendição das tropas paraguaias sitiadas, o Imperador recebeu as desculpas oficiais da Inglaterra pelas arbitrariedades praticadas por Christie. O Conde d’Eu narra deste modo a cerimônia:
“Chegou do Sul, por terra, o Sr. Edward Thornton, embaixador britânico em Buenos Aires. Vem encarregado pelo governo da Rainha para exprimir ao Imperador o seu pesar pelas violências que haviam praticado os navios da estação inglesa no Rio de Janeiro, em 1862, e pela ruptura de relações diplomáticas que se lhes seguiu, e que até hoje tem durado. O Imperador marcou a hora de meio-dia para o receber na barraca, com toda a solenidade que as circunstâncias comportam. Foram convidados para assistir à cerimônia os comandantes de todos os corpos.
Cada um se veste o melhor possível para esta solenidade diplomática. Torna-se a armar a barraca com as velas e bandeiras, e até se descobre um tapete. Ao lado forma um batalhão de linha completo. Além dos oficiais convocados, muitos outros vieram, desejosos de assistir a esta satisfação que se vai dar à honra nacional.
Tendo-se o Imperador colocado ao fundo da barraca, e a seus lados o ministro e as outras pessoas principais, o general Cabral introduz o Sr. Thornton, que veio da cidade em carruagem escoltada por um destacamento de cavalaria. Veste o uniforme diplomático com a comenda da Ordem do Banho. Depois das três reverências do estilo, pronuncia um longo discurso em francês, e em seguida entrega ao Imperador a carta da Rainha Vitória. Responde-lhe o Imperador igualmente em francês, e logo em seguida a banda colocada do lado de fora toca o ‘God save the Queen’, melodia que bem longe estávamos de supor que viéssemos ouvir aqui no fundo da província do Rio Grande do Sul”.


O Imperador não transige em questão de honra: Não provocamos a guerra, não proporemos a paz

Em luta com os ministros que não queriam deixá-lo partir para o Rio Grande do Sul, no início da guerra do Paraguai, o Imperador cortou a discussão, dizendo:
— Ainda me resta um recurso constitucional: se não parto como Imperador, abdico e vou para o Rio Grande como um voluntário da Pátria.

Declarada a guerra ao tirano Solano López, do Paraguai, seguiu o Imperador com seus genros, a incitar os seus súditos ao cumprimento do dever, por seu exemplo pessoal. Ao embarcar, disse à multidão que o aplaudia:
— Sou defensor perpétuo do Brasil, e quando os meus concidadãos sacrificam sua vida em holocausto sobre as aras da Pátria, em defesa de uma causa tão santa, não serei eu que os deixe de acompanhar.

Em momento de desânimo do seu Ministério, durante a guerra do Paraguai, o presidente do Conselho de Ministros consultou D. Pedro sobre a conveniência de se chegar a um acordo com o tirano inimigo. O Imperador, sempre delicado e tranqüilo, desta vez perdeu a calma. Ergueu-se indignado, bateu com o punho cerrado na mesa dos despachos, e bradou:
— Nunca! Nós não provocamos a guerra, não proporemos a paz! Se o sacrifício é enorme, maior seria a humilhação. Agora, é irmos até o fim. Eu partirei de novo para a guerra, se a minha presença se tornar necessária lá. Trocarei o trono por uma tenda de campanha. E quero ver se há algum brasileiro que não me acompanhe!

Em seu diário, D. Pedro II anotou: “Fala-se em paz no Rio da Prata. Eu não negocio com López! É uma questão de honra, e eu não transijo!”

Exigira a perseguição de López como se sua intenção fosse conquistar o Paraguai. Conseguida a vitória, mandava voltar os regimentos, apressava a restituição do território aos seus donos, para que a esponja do tempo apagasse a larga mancha de sangue. Era um capítulo encerrado. Nem anexações, nem compensações, nem castigos. Quitavam-se compromissos, com um saldo de idealismo. Salvara-se o prestígio das armas, mas não se agravara o direito das gentes. O Império não esmagava, retraía-se. Fizera a todo custo a guerra, o que era compreensível. Mas resistira às tentações do triunfo, o que foi exemplar.

A nossa vitória sobre os paraguaios, e o cavalheirismo com que tratamos nossos inimigos derrotados, deu-nos um grande prestígio junto aos nossos aliados na guerra, e junto a todas as repúblicas hispano-americanas.

Com relação à acusação que em certa época lhe faziam, de querer sustentar a guerra com o objetivo de ampliar o domínio territorial brasileiro, D. Pedro II registra em seu diário: “Protesto contra qualquer idéia de anexação de território estrangeiro”.
Anos mais tarde, quando se ventilava a nossa questão de limites com a Argentina, afirmou que não transigia:
— Ou o território é nosso, e não devemos alienar uma polegada dele, ou pertence ao nosso vizinho, e então é justo não querermos uma polegada do que não nos pertence.

D. Pedro II, que vencera uma longa e árdua guerra contra o Paraguai, e não tomara ao vencido um palmo do território, não se conformava também com a anexação da Alsácia-Lorena pela Alemanha. Em 1889, revelou: “Ouvi do finado Imperador Guilherme I, que com prazer chamo sempre de compadre, que ele nunca foi partidário da anexação. Não conheci velho mais amável. O gênio bélico era Bismarck. Evitei-o. Admiro o homem, mas não o estimo”.


O senso da dignidade nos atos do Imperador

D. Pedro II não poderia manter-se indiferente às reiteradas provocações do governo uruguaio, que consentia que a nossa bandeira servisse de tapete na porta de entrada dos salões do clube presidido por Leandro Gomez. Mandou Saraiva para Montevidéu, em missão especial, a fim de alcançar uma solução honrosa. O almirante Tamandaré só foi autorizado a usar de represálias depois que fracassaram as tratativas diplomáticas.
Quando foi aprisionado pelo tenente-coronel Oliveira Bello, Leandro Gomez pediu para ser entregue aos seus correligionários, e o seu desejo foi cavalheirescamente satisfeito. Entretanto, logo que as tropas brasileiras deixaram Paissandu, os seus próprios patrícios exigiram o seu fuzilamento, como reparação à chacina de Quinteros, da qual ele fora o principal instigador. Ao saber daquele ato de covardia, D. Pedro II o condenou formalmente, e exigiu a punição do coronel Goyo Suarez, que se havia comprometido a assegurar a vida do nosso insolente inimigo.

Logo após a vitória sobre o Paraguai, houve manifestações populares e revolta de militares no Rio, visando depor o Ministério constituído por Muritiba. Alguns militares, depois de percorrerem as ruas aclamando o Imperador e a Família Imperial, e exigindo a deposição do Gabinete, estabeleceram-se em frente ao Teatro Lírico, fazendo parar todos os coches da comitiva imperial, à procura do presidente do Conselho. O próprio carro do Imperador foi detido, e uns tenentes tomaram pelo freio os cavalos. D. Pedro II apareceu à portinhola, dominando o círculo ruidoso de manifestantes. Com voz clara e enérgica, mandou que o cocheiro fizesse partir o veículo:
— Não atendo a rogos de oficiais em plena rua!
Os militares se afastaram, e o carro prosseguiu.

Quando era ministro de Estrangeiros o senador Manuel Francisco Correia, D. Pedro II agraciou o grande estadista inglês Disraeli com a dignitária da Ordem da Rosa. Esse parlamentar recusou a graça imperial, por não ser assaz elevada como requeria a sua posição na Inglaterra. Só a Grã-Cruz lhe poderia convir, por ter já muitas de outras nações, e externou em carta ao ministro o motivo da sua recusa.
O ministro viu-se em sérios embaraços para transmitir tão desagradável notícia ao Monarca. Adiou a comunicação por vários despachos, e por fim a fez, certo de que obteria para o lord inglês a Grã-Cruz da Ordem. Iludiu-se. O Imperador franziu a testa, e disse:
— Pois outra não lhe dou!

Depois de ouvir o concerto de um famoso pianista inglês na embaixada brasileira em Londres, por ocasião da viagem de D. Pedro II ao país, o Príncipe de Gales, futuro rei Eduardo VII, manifestou ao embaixador, Barão de Penedo, o desejo de que o pianista fosse condecorado pelo Brasil com a Ordem da Rosa. O Imperador não tolerava nesse pianista a falta de higiene. Ao saber da proposta do Príncipe de Gales, comentou ironicamente:
— Concordo, desde que antes o governo inglês lhe conceda a Ordem do Banho...

Na sua primeira viagem à Europa, estava D. Pedro II em Rouen, cidade francesa então ocupada pelas tropas alemãs. Conhecedor da presença do Soberano, o general Treslov, comandante da guarnição alemã de ocupação, foi cumprimentá-lo, comunicando-lhe que mandaria colocar à porta do hotel uma guarda de honra, e ordenaria que a banda militar alemã desse um concerto em sua homenagem.
Agradecendo a intenção delicada do comandante, D. Pedro recusou a homenagem:
— Se eu estivesse na Alemanha, aceitaria. Estou na França, entretanto, e não devo permitir que a música dos vencedores venha saudar-me em chão dos vencidos.
O general prussiano inclinou-se, acatando com admiração e respeito o gesto de delicada sensibilidade. E o povo francês, sabedor da recusa imperial, demonstrou sempre para com Dom Pedro os mais vivos sentimentos de simpatia.

Visitando em Baden-Baden D. Pedro II exilado, Silveira Martins foi convidado por ele para um famoso concerto em praça pública, no qual se apresentavam os melhores maestros da Alemanha, e era assistido por todas as pessoas de importância. Quando a figura imponente do Imperador apareceu, todos se levantaram, como se uma mola os tivesse impelido ao mesmo tempo. O regente da orquestra foi ao seu encontro e fez-lhe entrega do programa. Visivelmente comovido, o Imperador exilado voltou-se para Silveira Martins e disse:
— Isto não é feito a mim, mas ao nosso Brasil.
— Como protesto eloqüentíssimo...


Nosso Imperador “yankee” – A popularidade de D. Pedro II nos Estados Unidos

Raros estrangeiros, e certamente nenhum outro chefe de Estado, desfrutou nos Estados Unidos, como D. Pedro II, uma tão grande popularidade e foi acolhido ali com tão expressivas provas de respeito, e mesmo de amizade. Não somente nos meios oficiais, políticos, intelectuais e outros, como igualmente na massa do povo, nas camadas mais modestas.
O entusiasmo pelo Imperador era enorme. Talvez ele tenha sido o visitante estrangeiro mais popular nos Estados Unidos. Qualquer coisa que ele fizesse tinha interesse. As pessoas ficavam fascinadas pelas suas qualidades.

A American Geographical Society organizou uma reunião especial, com a presença de D. Pedro II. Na saudação, Bayard Taylor afirmou: “Nunca esteve entre nós um estrangeiro que, após três meses de permanência, pareça ao povo americano tão pouco estrangeiro e tão amigo quanto D. Pedro II”.

O jornal “North American” comentou: “Nenhum governante, de nenhum país, tanto como homem quanto como governante, jamais teve tantos méritos diante dos Estados Unidos quanto D. Pedro II”.

O Imperador percorreu cerca de 15.000 quilômetros dentro dos Estados Unidos. Os políticos não perderam a oportunidade do exemplo para se fustigarem mutuamente, e um editor afirmou: “Quando ele voltar ao Brasil, estará conhecendo mais os Estados Unidos do que dois terços dos membros do Congresso”.
Em Baltimore, assistiu à “Dama das Camélias” no Teatro Opera Ford. Desde então, o camarote que ocupou passou a se chamar “camarote imperial”.

No dia 4 de julho de 1876, festa do centenário da independência americana, D. Pedro II se encontrava nos Estados Unidos, porém em caráter particular, como fazia durante as suas viagens.
Estava programado um espetáculo de gala, do qual participariam o presidente Ulysses Grant e toda a representação do mundo oficial. Ao hotel em que estava hospedado como “D. Pedro de Alcântara”, foi-lhe enviado um convite para assistir à solenidade no camarote do presidente americano. D. Pedro agradeceu e devolveu, dizendo que não estava ali como Imperador, portanto não podia aceitar, mas que iria em caráter particular. E foi. Mas o mestre de cerimônias o conduziu a um camarote “particular”, vizinho ao do presidente. Quando D. Pedro apareceu no seu lugar, em companhia da Imperatriz, correu-se a cortina que separava os dois camarotes, e ele se viu ao lado do presidente, no mesmo camarote.
Desfraldaram-se nesse momento, unidas, a bandeira americana e a brasileira. Logo depois a banda entoou o hino brasileiro, e uma multidão entusiástica, de pé, saudou com prolongadas palmas e vivas o nosso Imperador.

Tão grande era a admiração dos americanos pelo nosso Imperador, que nas eleições presidenciais de 1877 ele recebeu, só em Filadélfia, mais de 4.000 votos espontâneos.

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Um comentário:

Angela disse...

Gostei muito das informações a respeito de D. Pedro II. Realmente foi um homem culto e de grandes virtudes. Fico muito indignada de como as histórias da família imperial , na maioria da vezes, são focadas em sátira e deboche. Histórias sobre as aventuras amorosas de D. Pedro I, das loucuras da Rainha Mãe e da promiscuidade do Brasil colonial. D. Pedro II trouxe cultura e tecnologia ao nosso País e foi um homem muito digno em seu tempo. Devíamos gastar mais tempo contanto e escrevendo a seu respeito.
Maria Angela Souza Santos - Maringá PR