FATOS DO BRASIL IMPÉRIO

Bem vindo ao blog FATOS DO BRASIL IMPÉRIO. Aqui são narrados fatos da época do Império, geralmente pouco conhecidos, extraídos do livro REVIVENDO O BRASIL-IMPÉRIO, que publiquei sob o pseudônimo Leopoldo Bibiano Xavier. Leitura muito útil, que dá uma visão realista do modo como o Imperador Pedro II conduzia os destinos do País.
Você está convidado a visitar também os sites referentes ao meu livro mais recente, A VOLTA AO MUNDO DA NOBREZA, que contém mais de 1.700 fatos mostrando a atuação da nobreza em diversos países e épocas:
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Leon Beaugeste

8.6.08

16 - SAUDADES DA PÁTRIA - A FAMÍLIA IMPERIAL NO EXÍLIO

A Família Imperial a caminho do exílio

Martim Francisco de Andrada, quando D. Pedro II ainda era criança, vaticinou:
— Há de ser um digno e útil cidadão. Quando, porém, o Brasil não precisar mais dele, levá-lo-á ao embarcadouro e o despedirá. Os bons hão de chorá-lo, e os maus hão de insultá-lo.

Nos momentos angustiosos da partida para o exílio, D. Pedro II proferiu as seguintes palavras:
— Pois se tudo está perdido, haja calma. Eu não tenho medo do infortúnio!

Na sua viagem para o exílio, ao passar diante da última terra brasileira que veriam, os membros da Família Imperial decidiram enviar um pombo com uma mensagem, assinada por todos. Um criado escolheu um dos pombos mais vigorosos, que lhe pareceu capaz de transpor a distância que os separava da costa. D. Luiz de Orleans e Bragança, que tinha então 11 anos de idade, relatou depois, no livro “Sob o Cruzeiro do Sul”, as suas lembranças do episódio:
“Um pouco além de Cabo Frio – lembro-me como se fosse hoje – meu avô, querendo dar ao Brasil uma prova do seu inalterável amor, fez-nos soltar um pombo, em cujas asas ele próprio havia amarrado uma última mensagem. À vista da terra ainda próxima, a ave largou o vôo; mas um longo cativeiro lhe havia sem dúvida alquebrado as forças. Depois de haver lutado alguns momentos contra o vento, esmoreceu e vimo-lo cair nas ondas”.
O bilhete dizia: Saudades da Pátria.

No dia 2 de dezembro de 1889, o aniversário do Imperador foi comemorado a bordo do navio “Alagoas”, em que viajava para o exílio após a proclamação da República. Ao jantar, a mesa foi ornamentada com flores, gentileza do Comandante Pessoa, que bebeu pela saúde do Imperador. Este respondeu, brindando “à prosperidade do Brasil”. Do seu lugar, a Princesa Isabel levantava também a taça, brindando “ao papai”. Ele replicou:
— Menina! Ouça o meu brinde: À prosperidade do Brasil!

Já na Europa, D. Pedro II teve conhecimento da resolução do Governo Provisório de banir definitivamente a Família Imperial do território brasileiro. Perguntado se não pensava em lançar um manifesto, ele afirmou:
— O meu manifesto será a minha vida.
Ao repórter do “Tempo”, em Lisboa, repetiu:
— Manifesto? Sou eu, enquanto viver. É a minha pessoa. Sou eu próprio.

Ao chegar a Portugal, como exilado, Dom Pedro II ouviu de um jornalista:
— Vossa Majestade aqui não é um proscrito. Todos vos estimamos e respeitamos.

O Conde Afonso Celso narra a visita de condolências que ele e seu pai, o Visconde de Ouro Preto, fizeram a D. Pedro II por ocasião da morte da Imperatriz:
“Era modestíssimo o seu quarto. A um canto, cama desfeita. Em frente, um lavatório comum. No centro, larga mesa coberta de livros e papéis. Um sofá e algumas cadeiras completavam a mobília. Tudo frio, desolado e nu.
Os joelhos envoltos num cobertor ordinário, trajando velho sobretudo, D. Pedro II lia, sentado à mesa, um grande livro, apoiando a cabeça na mão. Ao nos avistar, acenou para que nos aproximássemos. Meu pai curvou-se para beijar-lhe a mão. O Imperador lançou-lhe os braços aos ombros e estreitou-o demoradamente contra o peito. Depois, ordenou que nos sentássemos perto dele. Notei-lhe a funda lividez.
Houve alguns minutos de doloroso silêncio. Sua Majestade o quebrou, apontando para o livro aberto e dizendo com voz cava:
— Eis o que me consola.
— Vossa Majestade é um espírito superior. Achará em si mesmo a força necessária.
D. Pedro não respondeu. Depois de novo silêncio, mostrou-nos o título da obra que estava lendo, uma edição recente da “Divina Comédia”. Então, com estranha vivacidade, pôs-se a falar de literatura, a propósito do livro de Dante Alighieri. Mudando de assunto, discorreu sobre várias matérias, enumerando as curiosidades do Porto, indicando-nos o que, de preferência, deveríamos visitar. Não aludiu uma única vez à Imperatriz. Só ao cabo de meia hora, quando nos retirávamos, observou baixinho:
— A câmara mortuária é aqui ao lado. Amanhã, às 8 horas, há missa de corpo presente.
Saímos. No corredor, verifiquei que o meu chapéu havia caído à entrada do aposento imperial. Voltei para apanhá-lo. Pela porta entreaberta, presenciei cena tocantíssima: ocultando o rosto com as mãos magras e pálidas, o Imperador chorava. Por entre os dedos escorriam-lhe as lágrimas, que caíam sobre as estrofes de Dante.


Falta-me o sol do Brasil

Em janeiro de 1891 o Conde Afonso Celso visitou o Imperador em Cannes, antes de iniciar uma viagem a vários países. D. Pedro o estimulou, dizendo:
— As viagens completam a educação, dilatando a inteligência, apurando as faculdades estéticas e afetivas, enriquecendo a observação e a experiência. E você vai verificar quão adiantado está em muitas coisas o nosso Brasil.
Depois, mudando de assunto, perguntou se havia recebido notícias do Brasil, vindas com o último navio que chegara.
— Sim, meu senhor.
— Então, conte-me as novidades todas.
O Imperador ouviu em silêncio tudo o que ele sabia. Em seguida, com um suspiro, comentou:
— Pois é singular. Não me chegou nenhuma notícia e nenhuma carta. É singular que ninguém mais se lembre de mim, para me dirigir duas linhas. Esqueceram-me mais depressa do que eu esperava.
— Não, meu senhor. O nome de Vossa Majestade jamais será olvidado no Brasil. Crescem cada dia o respeito e o amor públicos por Vossa Majestade.
— Mas então isso se dá de modo muito platônico e muito abstrato. Por que não me escrevem? Há pessoas cujas cartas me dariam tanto prazer...
— Talvez porque corre, e com fundamento, que o Governo ditatorial viola o sigilo da correspondência. Naturalmente as pessoas receiam comprometer-se, incorrer em punições.
— Qual! Há assuntos que não comprometem a ninguém. Nem acredito que o Governo levasse a mal que meus amigos indagassem, por exemplo, da minha saúde, e me enviassem notícias da própria. Não! É singular, é muito singular...

O Imperador exilado foi visitar seu velho amigo escritor Camilo Castelo Branco, que ficara cego.
— Console-se, meu Camilo. Há de voltar a ter vista.
— Meu senhor, a cegueira é a antecâmara da minha sepultura.
— Perdi o trono, Camilo, e estou exilado. Não voltar à Pátria é viver penando.
— Resigne-se Vossa Majestade. Tem luz nos seus olhos.
— Sim, meu Camilo, mas falta-me o sol de lá.

O embaixador do Brasil em Lisboa, Barão de Aguiar Andrade, aproximou-se do Imperador, para depor em suas mãos o cargo que dele recebera. Era uma delicada atenção, na hora da desgraça. Os olhos de D. Pedro fixaram-se nos do Barão, como a pesquisarem a sinceridade das suas palavras. Depois, na sua voz serena, o Monarca pediu ao representante do Brasil que se conservasse no seu posto, prosseguindo a sua carreira e servindo a Pátria.

Em Paris, após a proclamação da República, durante uma recepção na casa do Conde de Nioac, veio à baila o assunto da restauração do trono brasileiro. D. Pedro II interpelou o Conselheiro Ferreira Viana:
— Você acredita nisso?
— Sim, acredito. E tanto que, desde já, peço a Vossa Majestade que se comprometa a fazer-me uma graça nesse dia.
— Comprometo-me. Mas qual é a graça?
— O decreto do meu banimento, para não assistir a novo adesismo.

Certo pachá, literato muçulmano, anunciara uma conferência no Colégio Rudy, sobre literaturas orientais. Nos bilhetes de ingresso, mencionava-se que o ato seria honrado com o comparecimento de Sua Majestade D. Pedro de Alcântara, então exilado em Paris. Com efeito, à hora marcada, apareceu o Imperador, trazendo ao lado Daubrée e Levasseur, membros do Instituto de França. Houve na assembléia, já numerosa, um movimento de curiosidade e respeito. Duas meninas ofertaram-lhe um buquê com fitas verdes e amarelas. Encontrando-se com o Conde Afonso Celso, o Imperador o preveniu:
— Prepare-se para uma conferência maçante. Conheço esse pachá, e já o ouvi. Muito boa vontade, excelentes intenções, e mais nada. Vim, porque ele me convidou com empenho, e seria ofensa recusar. Como vê, não estou ainda totalmente liberto dos antigos percalços.
Durante cerca de duas horas o muçulmano, com crueldade inaudita, martirizou a paciência dos cristãos ali reunidos. Péssima pronúncia do francês, dicção incômoda, idéias corriqueiras e ênfase insuportável. À saída, o Soberano cochichou ao ouvido do Conde:
— Não lhe disse?! Confesse que sentiu saudades das conferências da Glória!


Funerais de Imperador na França republicana

Em 1891, num modesto quarto de um hotel de Paris, foi morar o ex-Imperador Pedro II. Levava consigo, num pequeno travesseiro, um punhado de terra do Brasil. Dizia que ao morrer queria que sua cabeça repousasse sobre ele. Quando sentiu que ia morrer, pediu o travesseiro, e com ele exalou o último suspiro, dizendo antes estas palavras, que foram o seu último pensamento:
— Nunca me esqueci do Brasil. Morro pensando nele. Que Deus o proteja!

O jornal “Le Jour”, por ocasião da morte de D. Pedro II, fez um elogio fúnebre em primeira página, insistindo na idéia de que era o momento de a França corresponder ao apoio que o Imperador lhe havia dado, pois fora ele “o primeiro soberano que, após nossos desastres de 1871, ousou nos visitar. Nossa derrota não o afastou de nós. A França lhe saberá ser agradecida”.
Sadi Carnot, presidente francês, decidiu prestar a D. Pedro II as honras de Chefe-de-Estado. A importância das exéquias públicas do Imperador deposto, decidida pelo governo francês, e as homenagens póstumas de que foi alvo, causaram a maior irritação no embaixador brasileiro, que representou ao Quai d’Orsay os protestos do governo republicano.
Enviados de todas as nações compareceram à fúnebre cerimônia. Na igreja da Madeleine, entre os membros do corpo diplomático, só se notou um lugar vazio – o do representante do nosso País. O Brasil oficial negou-se a tomar parte na maior glorificação do nome brasileiro!

No dia 9 de dezembro de 1891, muito cedo, apesar da chuva incessante e do vento frio, uma verdadeira multidão começou a ocupar a Praça da Madeleine e a invadir as ruas e avenidas adjacentes. Antes do meio-dia a multidão já se tornara tão compacta, que os correspondentes do “Daily Telegraph” e do “Daily Mail” escreveram: “Havia tanta gente nos funerais do Imperador quanto nos de Victor Hugo”.
Calcula-se em 200.000 as pessoas que assistiram à passagem do cortejo fúnebre.62

Joaquim Nabuco, correspondente do “Jornal do Brasil”, escreveu por ocasião das exéquias suntuosas de D. Pedro II em Paris:
“Mais do que isso, infinitamente, D. Pedro II preferia ser enterrado entre nós, e por certo que o tocante simbolismo de fazerem o seu corpo descansar no ataúde sobre uma camada de terra do Brasil interpreta o seu mais ardente desejo. Ao brilhante cortejo de Paris ele teria preferido o modesto acompanhamento dos mais obscuros de seus patrícios, e daria bem a presença de um dos primeiros exércitos do mundo em troca de alguns soldados e marinheiros que lhe recordassem as gloriosas campanhas nas quais o seu coração se enchera de todas as emoções nacionais.
Mas foi a sua sorte morrer longe da Pátria. É uma consolação, para todos os brasileiros que veneram o seu nome, ver que ele, na sua posição de banido, recebeu da gloriosa nação francesa as supremas honras que ela pôde tributar. No dia de hoje o coração brasileiro pulsa no peito da França”.

***

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4 comentários:

Ralphdefensor disse...

Antecipadamente, nota dez com louvor para o belo trabalho dos senhores.
Em segundo lugar, estimaria receber o texto "Carta às mães brasileiras", que há muito busco a pedido de minha mãe, Idália Maria.

Cordialmente,
Ralph D. Moreira
Advogado - OAB/PR 34.685
São José dos Pinhais/PR

Marco Almeida disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marco Almeida disse...

Caros Senhores,
O artigo (realmente um belo trabalho) me foi agradável e muito triste ao mesmo tempo. A dor de uma traição é incalculável, D. Pero II foi e ainda é o verdadeiro herói do Brasil; amou o Brasil (e os brasileiros) até a morte.
Meus cumprimentos,
Marco Almeida Barão de Sealand

Marco Almeida disse...

ORAÇÃO:
Senhor Deus, tenha misericórdia do Brasil e do "pobre" povo brasileiro que sofrem nesta terra destruída pela à desgraçada Proclamação da República de 15 de novembro de 1889; que aplicou um golpe que não houve luta e nem guerra, só houve a traição, à apunhalada pelas costas, covardia, inveja, e a mordida nas mãos daquele que os alimentavam e honradamente zelava pelo o bem do Brasil e pela nação. Que Deus cuide de todos nós brasileiros e cuide da Família Imperial do Brasil. Amém!

Meus cumprimentos,
Marco Almeida Barão de Sealand e Ordona e da Casa Real Von Holleben.