FATOS DO BRASIL IMPÉRIO

Bem vindo ao blog FATOS DO BRASIL IMPÉRIO. Aqui são narrados fatos da época do Império, geralmente pouco conhecidos, extraídos do livro REVIVENDO O BRASIL-IMPÉRIO, que publiquei sob o pseudônimo Leopoldo Bibiano Xavier. Leitura muito útil, que dá uma visão realista do modo como o Imperador Pedro II conduzia os destinos do País.
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Leon Beaugeste

26.5.08

04 - SIMPLES, SÁBIO E JUSTO – O IMPERADOR FILÓSOFO

Nosso Imperador gosta de estar bem perto do povo

O Imperador era respeitoso do conforto alheio, preocupado sempre em não incomodar a ninguém. Quando estava em Petrópolis, preferia descer ao Rio uma vez por semana, para despachar com os ministros em São Cristóvão, a obrigá-los a fazer as quatro ou cinco horas de viagem a Petrópolis.
Comparecia com a família aos bailes semanais do Hotel Bragança. Nos últimos anos já não dançava, mas limitava-se a conversar animadamente com todos. A Imperatriz estava geralmente presente, já idosa, baixa, coxa, nada devendo à formosura, mas seu aspecto traduzia a estirpe real, o selo aristocrático.
Na rua, cruzando com os transeuntes, o Imperador os cumprimentava com um largo gesto, cheio de cortesia. Outras vezes fazia parar um conhecido, político ou diplomata estrangeiro, com quem trocava algumas palavras. Não raro as crianças o rodeavam, fazendo algazarra. E era pitoresca, então, a cena daquele ancião respeitável, simples e desprevenido, cercado por uma meninada buliçosa, à qual distribuía pratinhas “com o seu retrato”. Em certas manhãs acompanhavam-no a Imperatriz, a Princesa Isabel, o Conde d’Eu e os pequenos príncipes. Caminhavam então em grupo, pelo meio da rua. Após o jantar, saíam todos a passeio pelas ruas da cidade, num landau puxado por uma bela parelha de cavalos negros, pertencentes ao Conde d’Eu.

Em Saint Etienne, no Loire, o Imperador quis visitar uma famosa indústria local. Saltou um pouco antes do portão, e enquanto caminhava pelo quarteirão muita gente vinha à porta, para vê-lo melhor. Em frente a uma das casas, um garoto de quatro anos chama a sua atenção. Este se põe então a sorrir, e diz:
— Esta é a minha casa. O Senhor não quer entrar?
Encantado com essa ingênua recepção, o Imperador entrou. Depois de ter lançado um olhar pela sala, e satisfeito por ter visto o interior daquela casa operária, deu um tapinha na bochecha do garoto e saiu, deixando-lhe como lembrança uma nota de cem francos.

D. Pedro II detestava a gravata branca. No baile que lhe foi oferecido na corte de Berlim, contrariando o protocolo, compareceu de gravata preta. Meia hora depois de sua chegada, os demais convidados estavam de gravata preta, em honra ao Monarca brasileiro.

No Covent Garden, em Londres, onde só se entrava de casaca, D. Pedro II inadvertidamente compareceu de sobrecasaca e cartola. O porteiro, que não sabia de quem se tratava, observou que teria de ser obedecido o regulamento. Habituado aos padrões nacionais, o Barão de Souza Fontes, que acompanhava D. Pedro, segredou ao porteiro:
— É Sua Majestade, o Imperador do Brasil.
— Pois... o camarote da rainha é lá em cima. Lá poderá entrar de sobrecasaca. Aqui, não.


A simplicidade da Família Imperial, vista por uma educadora alemã

Ina von Binzer, educadora alemã que viveu no Brasil em 1881/82, publicou posteriormente as cartas que então escreveu, relatando as suas impressões sobre o Brasil. Em 1/9/81, comenta sobre o nosso Imperador, que inaugurava um trecho de ferrovia:
“A manhã foi movimentadíssima. Todos os convidados estavam de pé, para ir visitar a cidadezinha de São João d’El Rey, e mesmo o mais pobre dos habitantes mostrava-se orgulhoso e amável, porque se considerava um anfitrião.
Às sete horas da noite, naturais e estrangeiros acorreram à estação, onde D. Pedro devia chegar. E como o trem atrasara quase três horas, não apareceram policiais nem funcionários da ordem, a fim de impedir que seus caros e leais súditos se comprimissem, dando tempo à multidão para empilhar-se, formando um muro compacto.
Finalmente chegou o trem. A locomotiva quebrara-se pelo caminho, e enquanto providenciavam uma outra, o Imperador foi obrigado a esperar duas horas na estação de Entre Rios, que ainda estava sendo pintada e atapetada para recebê-lo. Mas, como se podia perceber, nada disso prejudicava seu bom humor:
— Arranjaram também um concerto e um baile? – ouvimos quando ele indagou.
Cumprimentava sempre com o chapéu e com a mão. A Imperatriz acenava à direita e à esquerda. Atravessaram, seguidos pelo seu pequeno séquito, dirigindo-se com amabilidade aos seus súditos, encaminhando-se para a sala de espera da estação.
Nosso grupo aproveitou-se dessa curta demora para voltar mais depressa à casa onde se hospedaria o par imperial. Era uma propriedade particular, emprestada ao hóspede imperial, e pertencia a uma baronesa viúva que vive no Rio.
De repente, o barulho de um carro, que sacolejava entrondosamente sobre o calçamento. Curiosa, avancei minha cabeça: um senhor alto, imponente, de barba branca, apertava cordialmente a mão do Dr. Rameiro, que se achava perto da porta. Depois, esse vistoso senhor entrou no corredor e apertou a mão das senhoras, que se inclinaram levemente, e a seguir a dos senhores.
Atrás do Imperador vinha uma senhora muito pequenina e um pouco disforme, vestida simplesmente de preto, sorrindo com benevolência e dando a mão a beijar. Eram o Imperador e a Imperatriz do Brasil.
Você não pode fazer idéia do que eu sentia! Era tudo tão horrivelmente simples, e eu imaginara de maneira tão diferente uma recepção aos imperadores, oferecida por esses suntuosos brasileiros! Não havia nada impressionante.
D. Pedro oferece o braço à sua esposa, e o casal sobe a escada lentamente. Nós os seguimos. Em cima, a Imperatriz senta-se no sofá da sala de visitas. As senhoras presentes seguem o exemplo dessa única dama da corte, sentando-se à direita e à esquerda, nas filas de cadeiras em ângulo reto. E a pobre Imperatriz, velha e cansada, encontra ainda uma palavra amável para cada uma, enquanto o Imperador, como se fosse um moço, sem o mínimo sinal de fadiga, se reúne aos senhores.
Imagine, Grete! Ele falou também comigo. Primeiro, assustei-me quando se dirigiu a mim perguntando por meu tio, que se acha em Nova York, mas viveu muito tempo no Brasil, tendo sido muito protegido pelo Imperador. Parece que D. Pedro fala bem o alemão, mas comigo falou em francês.
O repouso das altas personagens não durou muito. O ministro da Agricultura, Buarque de Macedo, que fazia parte do séquito, já no caminho fora atacado por violento mal estar. À meia-noite informaram ao Imperador, que dera ordens para tal, que o ministro se aproximava do fim. Imediatamente, D. Pedro dirigiu-se para o lugar onde ele se encontrava.
Durante algum tempo, o doente esteve entre a vida e a morte. Depois, suspirou: ‘Minha pobre família...’ E o Imperador só teve tempo para tranqüilizá-lo, com breves palavras sobre o destino deles”.


Entre gente famosa, o prestígio do nosso Imperador

Em 1871, quando fez sua primeira viagem à França, D. Pedro II recebeu com viva simpatia o ilustre professor Adolphe Franck, do Instituto de França, autor do Dicionário Filosófico. A partir desse dia, cada vez que assistia às reuniões do Instituto, do qual era membro correspondente, procurava conversar com o filósofo, e não perdia as suas aulas no Colégio de França, mas permanecendo incógnito, como simples discípulo.
Numa das aulas, em que tratava do problema da escravidão, e percebendo a presença do Imperador, Franck disse:
— Um grande imperador moderno tomou a peito suprimir, em seu vasto império, a chaga social da escravidão, que desonra a humanidade. Esse imperador filantropo e sábio não é um mito. Existe realmente, está cheio de vida, e percorre todas as capitais da Europa, estudando as instituições e os costumes ocidentais. Podeis, senhores, vê-lo, falar-lhe e contemplar-lhe a face augusta. Ele está na Europa, na França, entre vós. Ele está ao vosso lado!
Imediatamente todos voltaram-se para o Soberano, e o aplaudiram com entusiasmo. Foi uma cena tocante e admirável.

Em Paris, D. Pedro II foi visitar o Professor Chevreul, seu velho amigo da Academia das Ciências, que carregava o peso de 102 anos de idade. Chamavam-no de “decano dos estudantes franceses”. Ao abraçá-lo, disse-lhe o Imperador:
— É a minha velhice que vem saudar vossa juventude de cabelos brancos!

Um dos maiores desejos de D. Pedro II era conhecer pessoalmente Victor Hugo, então no esplendor da notoriedade e da glória. Chegando a Paris em 1877, deu instruções à embaixada do Brasil para comunicar ao escritor o desejo que tinha de vê-lo entre seus visitantes do Grande Hotel. A resposta foi:
— Victor Hugo não visita ninguém.
Ao ter notícia da resposta, D. Pedro II sorriu:
— Não faz mal. Eu procurarei conhecê-lo. Ele tem sobre mim o triste privilégio da idade, e também a superioridade do gênio. Eu vou, portanto, fazer-lhe a primeira visita.

Ao tempo em que D. Pedro II visitou Victor Hugo, havia em Paris uma espécie de carruagem para transporte coletivo urbano, popularmente conhecida como impériale. Descrevendo como era o seu dia-a-dia, o poeta disse ao Imperador:
— Depois do almoço, por volta de uma hora da tarde, eu saio, e faço uma coisa que Vossa Majestade não poderia fazer: subo num ônibus.
— Por que não? Essa condução me conviria perfeitamente. Ela não se chama impériale?

Quando se despedia do republicano Victor Hugo, após uma de suas visitas, D. Pedro II ouviu dele estas palavras:
— Felizmente não temos na Europa um monarca como Vossa Majestade.
— Por quê?
— Se houvesse, não existiria um só republicano...


Um Imperador com vasta cultura geral

A cada passo, frei Antonio da Conceição Gomes de Amorim, beneditino e antigo capelão da Armada, exclamava:
— De todos os monarcas do mundo, o nosso é o único sábio!
Com o passar dos anos, crescera nele a já enorme admiração pelo Monarca:
— Saibam vocês que, perto do nosso Imperador, os outros reis do mundo são uns ignorantes, uns analfabetos!
Ia um pouco longe frei Amorim, mas não há hoje quem, de boa fé, pretenda negar quanto foi D. Pedro II um dos homens de mais vasta cultura geral, servido por belíssima inteligência e formidável memória, continuamente aprimorada pela obtenção de novos elementos, pois jamais houve ledor insaciável que lhe tenha levado vantagem.

O diplomata e escritor Gobineau foi embaixador francês no Rio de Janeiro, tornando-se grande amigo e confidente de D. Pedro II. Quando foi apresentar as credenciais, o Imperador lhe disse:
— Eu não o conheço como diplomata, mas desde muito que leio os seus livros e o conheço como escritor. Vamos nos sentar, assim conversaremos mais à vontade.
Estavam na sala do trono, e o Imperador o levou para um pequeno salão ao lado, sentou-se num sofá, e o diplomata numa poltrona. Por mais de uma hora conversaram sobre os monumentos da idade da pedra, sobre a língua guarani, sobre o período glacial, sobre a pré-história dos países nórdicos. Ao final da entrevista, decidiu:
— Discutiremos tudo isso a fundo. Venha ver-me todas as vezes que quiser. Terei sempre prazer em conversar com o senhor.

Na sua viagem à Europa, em 1871, os eruditos ouviam D. Pedro II estupefatos. Metia-se com sofreguidão pelos segredos da ciência. Desordenadamente, mas com tal sinceridade, que os cientistas custavam a crer naquele caso, de um chefe de nação douto como um catedrático, inteirado dos progressos da fisiologia e rodeado de livros espantosos.

Frederico Nietzsche estava numa pequena estação da Áustria, quando passou o trem no qual devia embarcar, para fazer pequeno percurso. Enganou-se e foi ter a certo vagão de luxo. Verificando o erro, e notando que o carro estava ocupado por alta personalidade com o seu séquito, quis retirar-se, mas teve logo o amável convite do ilustre viajante a que se sentasse. Não tardou que este o interpelasse, e dentro em pouco estavam os dois em animada conversa.
Uma hora mais tarde, o trem chegava à estação do destino de Nietzsche. Absolutamente entusiasmado, só então, ao descer, indagou da identidade do interlocutor. Surpreso, soube que se tratava do Imperador do Brasil. Depois, muito falou acerca do imprevisto encontro, literalmente fascinado pelo espírito do Soberano.

Magalhães de Azeredo conta que ouviu no estrangeiro a pergunta:
— Por que destronaram o velho D. Pedro II, um imperador tão bom e tão sábio? Se cá tivéssemos um imperador como ele, nós o faríamos prisioneiro, para que não pudesse ir embora.


Nosso Imperador: um filósofo e um sábio

Visitando o Liceu de Marselha, D. Pedro II foi convidado para assistir a uma aula de grego, onde um aluno o saudou nesta língua. O Imperador levantou-se, comovido, e agradeceu a saudação na própria língua de Homero. Saindo dali, foi ouvir a aula de árabe do professor Reinauld.

D. Pedro II conhecia a fundo lexicologia e lexicografia dos principais idiomas, além das línguas orientais e dos dialetos do nosso continente.
Em 1879, o cacique e alguns maiorais da tribo dos “coroados” estiveram no Rio a fim de se queixarem ao “Pai Grande”, narrando as violências praticadas contra eles por autoridades policiais do interior da província do Paraná. Hospedaram-se no Museu Nacional, no Campo de Santana.
Ninguém entendia o que diziam os silvícolas, embora se tivesse recorrido a vários lexicólogos. O Imperador, assim que tomou conhecimento da situação pelos jornais, foi visitá-los. E com a maior naturalidade conversou com eles, no seu dialeto.

Certo dia apareceu no Palácio o ministro da Fazenda, solicitando audiência para aprovação de uma nova lei de emissão de papel moeda. O Imperador sugeriu que tratassem do assunto no parque, onde o ministro expôs a sua argumentação. De repente D. Pedro descobriu um livro em cima de um banco, e começou a folheá-lo. Interessou-o de tal modo, que esqueceu tudo o que se passava à sua volta. O ministro, percebendo que o Imperador não mais lhe dava atenção, comentou:
— Majestade, a emissão de mais dinheiro é de suma importância!
— Senhor Ministro, falais de dinheiro? Pois eu deparei com um grande tesouro. Já há muito sonhava com ele, e agora estou satisfeito.
O livro continha textos em hebraico. Investigações posteriores revelaram que pertencia a um judeu sueco, Akerblom, que lá o havia esquecido. Posto em contato com o Imperador, desenrolou-se entre ambos uma prolongada conversação, ao fim da qual o judeu concordou em tornar-se professor de hebraico, mais uma língua que o Imperador aprendeu com facilidade.

O grão-rabino Benjamin Mossé, que publicou uma obra sobre D. Pedro II, declarou:
— Seu amor à literatura hebraica proporcionou-me a extraordinária satisfação de uma longa palestra com Sua Majestade. Tive a felicidade de conversar durante duas horas com o mais amável e instruído dos monarcas e, ao nos despedirmos, não pude deixar de lhe dirigir estas palavras, que ele acolheu com benevolência: “Majestade, sois mais que um Imperador, sois um filósofo e um sábio!”

O Conde de Mota Maia, médico do Imperador, que o acompanhou também no exílio, ouviu dele uma confidência:
— Há muito tenho um belo projeto, e julgo ser agora o momento para realizá-lo.
— Serei indiscreto perguntando que projeto é, meu senhor?
— Estou resolvido a imitar o exemplo de um imperador como eu, Carlos V. Entrarei para um convento, e aí passarei os poucos dias que me restam. Um convento que possua uma boa biblioteca. Que mais me é dado ambicionar?
— Oh! Senhor...
— Só uma circunstância me tolhe. Estou velho, enfermo, habituado aos cuidados de meu médico, que me conhece e no qual tenho confiança. Nos conventos não há médicos...
— Quanto a isso, não, meu senhor. Acompanharei Vossa Majestade seja aonde for.
— Estou certo disso. Mas não tenho o direito de lhe impor tamanho sacrifício. Bastam os que já tem feito.


No governo do Imperador, a preocupação pela justiça

Julgando-se prejudicado em um concurso para professor da Faculdade de Direito de Olinda, o Sr. Sá Antunes foi ao Rio e apresentou suas queixas ao Imperador, que prometeu encaminhar o caso ao seu ministro. Como a solução demorasse, teve de comparecer a várias audiências. Afinal, agastado pela demora, desabafou:
— Majestade, perdoe-me. Eu não acredito em seu ministro. Já perdi toda a esperança de obter justiça.
— Como, Sr. Sá Antunes! O senhor, tão moço, já assim descrente?! Não diga isso! Justiça se fará.
Pouco tempo depois o caso se resolvia favoravelmente.

Num concurso para professor de História do Brasil, no Colégio D. Pedro II, dois candidatos se classificaram em igualdade de condições. O ministro do Império decidira a favor do candidato que era natural do seu próprio Estado, e levou o decreto para a assinatura do Imperador, que argumentou:
— Os exames foram considerados iguais, mas o outro candidato, Matoso Maia, esteve na campanha do Paraguai...
— O Dr. Rozendo também esteve.
— Sim, mas como médico civil, em Assunção, no hospital de Marinha. O Matoso Maia esteve na batalha de 24 de maio, como cirurgião-mor de brigada. Além disso, é chefe de numerosa família, e o outro é solteiro.
À vista de tais razões, o ministro resolveu contrariar suas preferências políticas, e efetivou a nomeação do outro candidato.

Em audiência, alguém denunciou ao Imperador que um dos seus ministros não atendera a uma justa petição.
— Os meus ministros não fazem injustiça – respondeu prontamente. Depois, mais calmo, acrescentou:
— Eu mesmo vou examinar a questão.
E acabou dando razão ao reclamante, que tão acertadamente confiara na sua eqüidade.

O oficial de marinha Irineu José da Rocha foi preterido por diversas vezes, na promoção de posto. Indignado com tão repetidas injustiças, foi ter com o Imperador, e narrou-lhe o que ocorria. Concluiu com esta queixa:
— Se Vossa Majestade me fizer a graça de conceder a minha exoneração, no dia seguinte far-me-ei cidadão norte-americano. É demais o que tenho sofrido no meu País!
— Acalme-se, senhor tenente, acalme-se! Vá tranqüilo, que o meu Governo lhe fará justiça.
Pouco tempo depois o digno queixoso era promovido.

O Visconde de Ouro Preto publicara a 10 de dezembro um manifesto no jornal “Comércio de Portugal”, sobre o levante de 15 de novembro, ao qual se seguira a proclamação da República. O Imperador e ele estavam em Lisboa, exilados. Visitando D. Pedro II, este lhe disse:
— Já li o seu trabalho. Está muito bom, completo e claro. Achei-o excelente, menos num ponto.
— Qual, senhor?
— Não me pareceu muito justo a respeito do Maracaju.
— Eu não lhe fiz a menor acusação.
— Sim, mas quem ler o que o senhor escreveu...
— Perdão, senhor. Só me cumpria expor os fatos como eles se passaram. Pratiquei a mais escrupulosa fidelidade, com toda a calma e sem nenhum ressentimento. Não tenho receio de que me possam contestar com fundamento, porque só narrei o que presenciei, ouvi ou fiz. Cada qual tire daí as ilações que julgar acertadas. Se estas forem desfavoráveis a quem quer que seja, de quem é a culpa?
— Tem razão, mas não creio que houvesse traição da parte do Maracaju.
— Nem eu. Tenho-o por incapaz disso. Considero-o ainda hoje tão leal como no dia em que o apresentei a Vossa Majestade para ministro.
— Está bem. Vou reler o manifesto. Repugna-me acreditar tivesse havido traição da parte de certos personagens, como circunstâncias inexplicáveis autorizariam a desconfiar. Não sei definir... Traição consciente e premeditada, não. Trair parece-me coisa muito difícil: deve exigir extraordinário esforço. E trata-se, ademais, de homens com honrosos precedentes e serviços ao País. O senhor, em todo o caso, exprimiu a verdade. Cumpriu o seu dever.

Sobre a pena de morte, D. Pedro II afirmou:
— Não sou partidário da pena de morte, mas o estado da nossa sociedade ainda não a dispensa, e ela existe na lei. Contudo, usando de uma das atribuições do Poder Moderador, comuto-a sempre que há circunstâncias que o permitam. E para melhor realização deste pensamento, é sempre ouvida a Seção de Justiça do Conselho de Estado sobre os recursos de graça. A idéia da consulta à seção, para esse fim, foi minha.

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