FATOS DO BRASIL IMPÉRIO

Bem vindo ao blog FATOS DO BRASIL IMPÉRIO. Aqui são narrados fatos da época do Império, geralmente pouco conhecidos, extraídos do livro REVIVENDO O BRASIL-IMPÉRIO, que publiquei sob o pseudônimo Leopoldo Bibiano Xavier. Leitura muito útil, que dá uma visão realista do modo como o Imperador Pedro II conduzia os destinos do País.
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Leon Beaugeste

14.6.08

CRONOLOGIA DO IMPÉRIO BRASILEIRO

1797 - 22 de janeiro - Nascimento de D. Leopoldina
1798 - 12 de outubro - Nascimento de D. Pedro I
1808 - 7 de março - Chegada de D. João VI ao Rio de Janeiro
1815 - 16 de dezembro - O Brasil é elevado a Reino Unido
1817 - 13 de maio - Casamento de D. Pedro I com D. Leopoldina
1821 - 25 de abril - Partida de D. João VI para Portugal
1822 - 9 de janeiro - Dia do ‘Fico’
- 7 de setembro - Grito do Ipiranga
1824 - 24 de julho - Confederação do Equador
1825 - 15 de novembro - Reconhecimento oficial da Independência
- 2 de dezembro - Nascimento de D. Pedro II
1826 - 10 de março - Morte de D. João VI
- 11 de dezembro - Morte de D. Leopoldina
1829 - 2 de agosto - Casamento de D. Pedro I com D. Amélia
1831 - 7 de abril - Abdicação de D. Pedro I
1834 - 24 de setembro - Morte de D. Pedro I em Lisboa
1840 - 23 de julho - Proclamação da maioridade do Imperador
1841 - 18 de julho - Sagração e coroação de D. Pedro II
1843 - 3 de setembro - Chegada da Imperatriz Teresa Cristina ao Rio
1846 - 29 de julho - Nascimento da Princesa Isabel
1847 - 20 de julho - Criação da Presidência do Conselho de Ministros
1850 - 4 de setembro - Lei contra o tráfico de negros
1851 - 14 de dezembro - Início da guerra contra Rosas
1852 - 5 de fevereiro - Derrota de Rosas em Monte Caseros
1856 - 6 de setembro - Gabinete da conciliação
1862 - 30 de dezembro - Início da Questão Christie
1863 - 5 de julho - Ruptura de relações com a Inglaterra
1864 - 15 de outubro - Casamento da Princesa Isabel com o Conde d’Eu
- 27 de dezembro - Invasão de Mato Grosso por Solano López
1865 - 1º de maio - Tratado da Tríplice Aliança
- 23 de setembro - Reatamento de relações com a Inglaterra
1866 - 23 de abril - Invasão do Paraguai pelas forças aliadas
1868 - 13 de janeiro - Caxias assume o comando do Exército
1869 - 16 de abril - O Conde d’Eu assume o comando do Exército
1870 - 1º de março - Morte de Solano López e fim da guerra do Paraguai
1871 - 25 de maio - Partida do Imperador para a Europa
- 28 de setembro - Lei do Ventre Livre
1872 - 3 de março - Início da `questão religiosa’
- 30 de março - Chegada do Imperador ao Rio
1873 - 27 de janeiro - Morte de D. Amélia em Portugal
1875 - 17 de setembro - Anistia de D. Vital e D. Macedo Costa
1876 - 26 de março - Partida do Imperador para os EUA e Europa
1877 - 26 de setembro - Chegada do Imperador ao Rio
1885 - 28 de setembro - Lei de libertação dos sexagenários
1887 - 30 de junho - Partida do Imperador para a Europa
1888 - 13 de maio - Lei Áurea
- 22 de agosto - Chegada do Imperador ao Brasil
1889 - 15 de novembro - Proclamação da República
- 17 de novembro - Partida da Família Imperial para o exílio
- 7 de dezembro - Chegada da Família Imperial a Lisboa
- 28 de dezembro - Morte da Imperatriz Teresa Cristina
1891 - 5 de dezembro - Morte do Imperador D. Pedro II
1921 - 14 de novembro - Morte da Princesa Isabel
1922 - 28 de agosto - Morte do Conde d’Eu

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23 - BIBLIOGRAFIA

1 - A. C. D’ARAÚJO GUIMARÃES - A Corte no Brasil - Globo, Porto Alegre, 1936, 246 p.
2 - A. CÂNDIDO RODRIGUES - O maior dos brasileiros - RIHGB, vol. 152, 1925
3 - A. GOMES DO CARMO - O Imperador - Fatos, reminiscências e anedotas - Jornal do Comércio, RJ, 21/7/1935
4 - AFONSO D’ESCRAGNOLLE TAUNAY - D. Pedro II e a guerra do Paraguai - RIHGB, vol. 152, 1925
5 - AFONSO D’ESCRAGNOLLE TAUNAY - No Brasil Imperial - Imprensa Nacional, RJ, 1922
6 - AFONSO D’ESCRAGNOLLE TAUNAY - No Rio de Janeiro de Dom Pedro II - Agir, RJ, 1947, 274 p.
7 - AFONSO D’ESCRAGNOLLE TAUNAY - Pedro II - Os grandes fatos de seu reinado - Correio Paulistano, 2/12/1925, apud RIHGB, vol. 152, 1925
8 - ALAN ASSUMPÇÃO MORGAN - República ou Monarquia - O Estado de S. Paulo, 1/4/87
9 - ALBERTO DE FARIA - D. Pedro II, em nossa vida econômica - RIHGB, vol. 152, 1925
10 - ALBERTO RANGEL - A Educação do Príncipe - Agir, RJ, 1945, 296 p.
11 - ALFREDO BALTHAZAR DA SILVEIRA - D. Pedro II, defensor da unidade nacional - Jornal do Comércio, 2/12/1925, apud RIHGB, vol. 152, 1925
12 - ALFREDO BALTHAZAR DA SILVEIRA - D. Pedro II, homem de bem - Correio da Manhã, 2/12/1925, apud RIHGB, vol. 152, 1925
13 - ALFREDO NASCIMENTO - Magni Nominis Umbra - Jornal do Comércio, 2/12/1925, apud RIHGB, vol. 152, 1925
14 - ALFREDO NASCIMENTO - O patriotismo do Imperador - RIHGB, vol. 152, 1925
15 - AMÉRICO JACOBINA LABOMBE - Dom Pedro II e a Cultura - Arq. Nacional, RJ, 1977, 478 p.
16 - ANFRÍSIO FIALHO - Don Pedro II, Empereur du Brésil - Weissenbruch, Bruxelas, 1876, 100 p.
17 - ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - A Legitimidade Monárquica no Brasil - Artpress, SP, 1988, 250 p.
18 - ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - Ser ou Não Ser Monarquista, Eis a Questão! - Artpress, SP, 1990, 160 p.
19 - ARROJADO LISBOA - O Imperador em Petrópolis - RIHGB, vol. 152, 1925
20 - ASSIS CHATEAUBRIAND - Um professor de elites - RIHGB, vol. 152, 1925
21 - ASSIS CINTRA - Histórias Que Não Vêm na História - Ed. Nacional, SP, 1928, 254 p.
22 - AURÉLIO LOPES - D. Pedro II e os Seus Livros - Jornal do Comércio, 2/12/1925, apud RIHGB, vol. 152, 1925
23 - B. F. RAMIZ GALVÃO - Gratas Reminiscências - Jornal do Brasil, 2/12/1925, apud RIHGB, vol. 152, 1925
24 - B. F. RAMIZ GALVÃO - O Imperador e a instrução pública - RIHGB, vol. 152, 1925
25 - BARÃO DE TEFFÉ - Reminiscências de D. Pedro II - Revista da Semana, RJ, 28/11/1925
26 - BENJAMIN MOSSÉ - Vida de Dom Pedro II - Cultura Brasileira, SP, 1889, 322 p.
27 - BERILO NEVES - A missão do Império - Jornal do Comércio, 2/12/1925, apud RIHGB, vol. 152, 1925
28 - BERTITA HARDING - O Trono do Amazonas - José Olympio, RJ, 1944, 324 p.
29 - CARLOS DE LAET - O Imperador e a imprensa - RIHGB, vol. 152, 1925
30 - CARLOS DE LAET - Obras Seletas - Agir, RJ, 1983, 3 vol.
31 - CARLOS H. OBERACKER JR. - A Imperatriz Leopoldina - Cons. Fed. de Cultura, RJ, 1973, 494 p.
32 - COMISSÃO EXECUTIVA - O Imperador e os Cearenses - A. C. Mendes, Fortaleza, 1914, 106 p.
33 - CONDE AFONSO CELSO - O Imperador no Exílio - Francisco Alves, RJ, 1893, 210 p.
34 - CONDE AFONSO CELSO - O Visconde de Ouro Preto - Globo, Porto Alegre, 1935, 438 p.
35 - CONDE D’EU - Viagem Militar ao Rio Grande do Sul - EDUSP/Itatiaia, SP, 1981, 186 p.
36 - CONDESSA RENÉ DE NICOLAY - Le Temps de Ma Mère, Souvenirs - Mandelieu, 1988, 268 p.
37 - CORREIO DA MANHÃ - A República, partida para o exílio e morte - 2/12/1925, apud RIHGB, vol. 152, 1925
38 - DOM LUIZ DE ORLEANS E BRAGANÇA - Sob o Cruzeiro do Sul - Lith. Montreux, Montreux, 1913, 460 p.
39 - E. VILHENA DE MORAIS - Novos Aspectos da Figura de Caxias - Leuzinger, RJ, 1937, 308 p.
40 - E. VILHENA DE MORAIS - O Gabinete Caxias e a Anistia aos Bispos na ‘Questão Religiosa’ - F. Briguiet, RJ, 1930, 160 p.
41 - EDUARDO PRADO - A Ilusão Americana - Brasiliense, SP, 1957, 194 p.
42 - ELIAS LIPINIER - As Aventuras Intelectuais de D. Pedro II - D.O. Leitura, SP, Maio de 1990
43 - ELMANO CARDIM - A imprensa no reinado de Pedro II - Digesto Econômico, SP, Ano XXVI, Nº 213, p. 64
44 - ERNESTO MATTOSO - Cousas do Meu Tempo - Gounouilhou, Bordeaux, 1916, 338 p.
45 - ESCRAGNOLLE DÓRIA - Reminiscências do Palácio de São Cristóvão - RIHGB, vol. 152, 1925
46 - FOLCO MASUCCI - Anedotas Históricas Brasileiras - Edanee, SP, 1947, 268 p.
47 - GASTÃO DA CUNHA FERREIRA - Portugal em Baixo ou em Cima? - Biblioteca do Pensamento Político, Lisboa, 1988, 314 p.
48 - GEORGES RAEDERS - Pedro II e os Sábios Franceses - Atlântica, RJ, 1944, 236 p.
49 - GILBERTO FREYRE - D. Pedro II julgado por alguns estrangeiros seus contemporâneos - Anuário do Museu Imperial, vol. XXI a XXXI, Petrópolis, 1960-70
50 - GOFFREDO D’ESCRAGNOLLE TAUNAY - A morte do Imperador - RIHGB, vol. 152, 1925
51 - HAMILTON LINDSAY-BUCKNALL - Um Jovem Irlandês no Brasil em 1874 - Hachette, RJ, 1976, 120 p.
52 - HEITOR LYRA - História de Dom Pedro II - EDUSP/Itatiaia, SP, 1977, 3 vol.
53 - HEITOR MONIZ - Episódios Históricos do Brasil - A Noite, RJ, 1942, 184 p.
54 - HEITOR MONIZ - No Tempo da Monarquia - Ed. Nacional, SP, 1929, 244 p.
55 - HEITOR MONIZ - O Brasil de Ontem - Leite Ribeiro, RJ, 1928, 280 p.
56 - HEITOR MONIZ - O Segundo Reinado - Leite Ribeiro, RJ, 1928, 258 p.
57 - HÉLIO VIANNA - D. Pedro I e D. Pedro II - Ed. Nacional, SP, 1966, 328 p.
58 - HÉLIO VIANNA - Vultos do Império - Ed. Nacional, SP, 1968, 250 p.
59 - HENRIQUE BARRILARO RUAS - A Liberdade e o Rei - Biblioteca do Pensamento Político, Lisboa, 1971, 338 p.
60 - HERMES VIEIRA - A Princesa Isabel no Cenário Abolicionista do Brasil - São Paulo Editora, SP, 1941, 420 p.
61 - HUMBERTO DE CAMPOS - O Brasil Anedótico - W.M. Jackson, RJ, 1951, 326 p.
62 - I.H.G.B. - Homenagem do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro à Memória de Sua Majestade o Senhor D. Pedro II - Cia. Tipogr. do Brasil, RJ, 1894
63 - IGNÁCIO MOURA E JUSTINO BARROSO - Um Grande Brasileiro - Pap. Americana, Belém, 1925, 172 p.
64 - INA VON BINZER - Os Meus Romanos - Paz e Terra, RJ, 1980, 136 p.
65 - J. F. DE ALMEIDA PRADO - Tomas Ender - Ed. Nacional, SP, 1955, 384 p.
66 - J. M. M. F. - D. Pedro II - Jornal do Comércio, 2/12/1925, apud RIHGB, vol. 152, 1925
67 - JOÃO ALFREDO CORRÊA DE OLIVEIRA - Minha Meninice & Outros Ensaios - Massangana, Recife, 1988, 100 p.
68 - JOÃO CAMILLO DE OLIVEIRA TORRES - A Democracia Coroada - José Olympio, RJ, 1957, 590 p.
69 - JOÃO DO RÊGO BARROS - Reminiscências de há 50 anos, de um cadete do 1º Regimento de Cavalaria - RIHGB, vol. 152, 1925
70 - JOAQUIM NABUCO - O Brasil e o Imperador - Jornal do Brasil, 2/12/1925, apud RIHGB, vol. 152, 1925
71 - JOAQUIM NABUCO - Um Estadista do Império - Ipê, SP, 1949, 4 vol.
72 - JOAQUIM PIMENTA - D. Pedro II, o magnânimo - Correio da Manhã, RJ, 2/12/1925, apud RIHGB, vol. 152, 1925
73 - JOAQUIM PINTO DE CAMPOS, MONS. - Biografia do Senhor D. Pedro II, Imperador do Brasil - Pereira da Silva, Porto, 1871, 96 p.
74 - JORNAL DO BRASIL - O centenário de Pedro II - 2/12/1925, apud RIHGB, vol. 152, 1925
75 - JORNAL DO BRASIL - D. Pedro II - RJ, 1892, 159 p.
76 - JORNAL DO COMÉRCIO - Centenário de D. Pedro II - RJ, 2/12/1925, apud RIHGB, vol. 152, 1925
77 - JORNAL DO COMÉRCIO - Traços biográficos de D. Pedro II - RJ, 2/12/1925, apud RIHGB, vol. 152, 1925
78 - JOSÉ CARLOS DE CARVALHO - À memória do Imperador D. Pedro II - Jornal do Comércio, RJ, 1925, 142 p.
79 - JOSÉ HONÓRIO RODRIGUES - Atas do Conselho de Estado - vol. X - Senado Federal, Brasília, 1973
80 - JOSÉ M. PINHEIRO JÚNIOR - As Mil e Uma Anedotas - Alves, RJ, 202 p.
81 - JOSÉ MARQUES DA CRUZ - Seleta - Melhoramentos, SP, 1957, 170 p.
82 - JOSÉ ROBERTO DO AMARAL - O Imperador e o Cotidiano - Revista Estudos Históricos, nº 1, junho/1963, Marília, SP
83 - JOSÉ TOBIAS ZICO, C.M., Pe. - Caraça - Peregrinação, Cultura e Turismo - Ed. São Vicente, BH, 1982, 204 p.
84 - KURT LOEWENSTAMM - O Hebraísta no Trono do Brasil - Biblos, RJ, 1891, 47 p.
85 - LAFAYETTE SILVA - Vida, educação, governo e morte de Pedro II - Correio da Manhã, RJ, 2/12/1925, apud RIHGB, vol. 152, 1925
86 - LAUDELINO FREIRE - Desvelado e magnânimo - RIHGB, vol. 152, 1925
87 - LEONCIO DO AMARAL GURGEL - O Neto de Marco Aurélio - Fagundes, SP, 1937, 266 p.
88 - LUIZ VIANA FILHO - A Vida de Rui Barbosa - Ed. Nacional, SP, 1960, 454 p.
89 - LUÍS DA CÂMARA CASCUDO - O Conde d’Eu - Ed. Nacional, SP, 1933, 166 p.
90 - LUÍS DA CÂMARA CASCUDO - O Marquês de Olinda - Ed. Nacional, SP, 1938, 350 p.
91 - LÍDIA BESOUCHET - Exílio e Morte do Imperador - Nova Fronteira, RJ, 1975, 466 p.
92 - MANFREDO LEITE - Saudades - O Livro, SP, 1922, 62 p.
93 - MANUEL AUGUSTO DA MOTA MAIA - O Conde de Mota Maia, Médico e Amigo Dedicado de D. Pedro II - Francisco Alves, RJ, 1937, 448 p.
94 - MARTIM FRANCISCO RIBEIRO DE ANDRADA - Pedro II - Partidos - Ministros - RIHGB, vol. 152, 1925
95 - MARY WILHELMINE WILLIAMS - Dom Pedro the Magnanimous - Univ. North Carolina, Chapel Hill, 1937, 414 p.
96 - MAURÍLIO AUGUSTO DE ALMEIDA - Presença de D. Pedro II na Paraíba - João Pessoa, 1982, 140 p.
97 - MAX FLEIUSS - A Imperatriz D. Teresa Cristina - Imprensa Nacional, 1922.
98 - MAX FLEIUSS - D. Pedro II e as letras pátrias - Correio da Manhã, 2/12/1925, apud RIHGB, vol. 152, 1925
99 - MAX FLEIUSS - Dom Pedro Segundo - Imprensa Nacional, RJ, 1940, 196 p.
100 - MAX FLEIUSS - O Imperador julgado pelos intelectuais - O Imparcial, 2/12/1925, apud RIHGB, vol. 152, 1925
101 - MAX FLEIUSS - Páginas Brasileiras - Impr. Nacional, RJ, 1919, 456 p.
102 - MAX FLEIUSS - Páginas de História - Impr. Nacional, RJ, 1930, 650 p.
103 - MESQUITA PIMENTEL - D. Pedro II: Seu Caráter, Seu Governo, Sua Influência sobre a Política e os Costumes de Seu Tempo - Petrópolis, 1925, 124 p.
104 - MIGUEL MILANO - Heróis Brasileiros - Globo, Porto Alegre, 1943, 194 p.
105 - MONTEIRO LOBATO - D. Pedro II - Revista Brasil, RJ, nº 36, dezembro de 1918
106 - MONTEIRO LOBATO - Mr. Slang e o Brasil - Brasiliense, SP, 1946, 340 p.
107 - MOREIRA GUIMARÃES - O Imperador e o Exército - RIHGB, vol. 152, 1925
108 - MOZART MONTEIRO - O casamento do Imperador - RIHGB, vol. 152, 1925
109 - MURILO CABRAL SILVA - D. Pedro II e a literatura nacional - Anuário do Museu Imperial, vol. XXI a XXXI, 1960-70, Petrópolis
110 - MÚCIO TEIXEIRA - O Imperador Visto de Perto - Leite Ribeiro, RJ, 1917, 273 p.
111 - NAIR LACERDA - Grandes Anedotas da História - Cultrix, SP, 1977, 302 p.
112 - NUNO FERREIRA DE ANDRADE, CONS. - Contos e Crônicas - Bevilacqua, RJ, 1907, 301 p.
113 - O ESTADO DE S. PAULO - A mordomia que não foi - 21/10/90
114 - O IMPARCIAL - O Feriado Nacional - 2/12/1925, apud RIHGB, vol. 152, 1925
115 - OLIVEIRA LIMA - O Imperador e os sábios - RIHGB, vol. 152, 1925
116 - OLIVEIRA LIMA - O Império Brasileiro - EDUSP/Itatiaia, SP, 1989, 182 p.
117 - OLIVEIRA VIANNA - O Ocaso do Império - Melhoramentos, SP, 1933, 212 p.
118 - OLÍVIA SEBASTIANA DA SILVA - Uma Alma de Fé - Ed. Ave Maria, SP, 1985, 290 p.
119 - OTO DE HABSBURGO - Portugal e África no Mundo de Hoje - Biblioteca do Pensamento Político, Lisboa, 1974, 176 p.
120 - OTÁVIO TARQUÍNIO DE SOUZA - A Vida de D. Pedro I - EDUSP/Itatiaia, SP, 1988, 3 vol.
121 - PANDIÁ CALÓGERAS - Formação Histórica do Brasil - Ed. Nacional, SP, 1938, 448 p.
122 - PANDIÁ CALÓGERAS - O poder pessoal e o lápis fatídico - RIHGB, vol. 152, 1925
123 - PAULO NAPOLEÃO NOGUEIRA DA SILVA - Democracia e Realidade Brasileira - Alfa-Ômega, SP, 1989
124 - PAULO NAPOLEÃO NOGUEIRA DA SILVA - Terceiro Reinado? - D.O. Leitura, SP, Janeiro de 1990
125 - PAULO SETÚBAL - As Maluquices do Imperador - Ed. Nacional, SP, 1927, 318 p.
126 - PEDRO CALMON - O Rei Cavaleiro - Saraiva, 1948, 255 p.
127 - PEDRO CALMON - O Rei Filósofo - Ed. Nacional, SP, 1939, 484 p.
128 - PIRES BRANDÃO - O Imperador em Baden-Baden e a visita de Silveira Martins - Correio da Manhã, RJ, 2/12/1925, apud RIHGB, vol. 152, 1925
129 - PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA - No centenário da Princesa Isabel - O Legionário, SP, 28/7/46
130 - RAIMUNDO FAORO - A ilusão faz cem anos - Isto é-Senhor, 15/11/89
131 - RAIMUNDO MAGALHÃES JÚNIOR - D. Pedro II na França - Manchete, RJ, 1/5/76
132 - RAIMUNDO MAGALHÃES JÚNIOR - O Império em Chinelos - Civilização Brasileira, RJ, 1957, 314 p.
133 - RAMALHO ORTIGÃO - As Farpas - O País e a Sociedade Portuguesa - Livraria Clássica Edit., Lisboa, 1944, 310 p.
134 - ROBERTO MENDES GONÇALVES - O Barão Hübner na Corte de São Cristóvão - MEC, RJ, 1955, 34 p.
135 - ROBERTO MENDES GONÇALVES - Um Diplomata Austríaco na Corte de São Cristóvão - Cons. Fed. de Cultura, RJ, 1970, 174 p.
136 - ROCHA MARTINS - O Imperador do Brasil D. Pedro II - AOV, Porto, 1949, 248 p.
137 - RODOLFO GARCIA - Viagens de D. Pedro II - RIHGB, vol. 152, 1925
138 - RODRIGO OTÁVIO FILHO - Figuras do Império e da República - Zélio Valverde, RJ, 1944, 184 p.
139 - RUBEN ALMEIDA - Um gesto formoso - Vida Doméstica, julho/1935
140 - SEBASTIÃO PAGANO - Eduardo Prado e Sua Época - O Cetro, SP, 1960, 286 p.
141 - SEBASTIÃO PAGANO - Meditações à Margem do Manifesto Republicano de 1870 - Palestra no Instituto Genealógico Brasileiro, em 9/1/1971
142 - TEODORO SAMPAIO - A cultura intelectual do Imperador - RIHGB, vol. 152, 1925
143 - TOBIAS MONTEIRO - A tolerância do Imperador - O Jornal, RJ, 5/12/1925, apud RIHGB, vol. 152, 1925
144 - TOBIAS MONTEIRO - Pesquisas e Depoimentos para a História - EDUSP/Itatiaia, SP, 1982, 176 p.
145 - VEJA - Edição especial do centenário da República - 20/11/89
146 - VICENTE VEGA - Diccionario Ilustrado de Anécdotas - Gustavo Gili, Barcelona, 1965, 904 p.
147 - VIRIATO CORREIA - Baú Velho - Ed. Nacional, SP, 1927, 288 p.
148 - VIRIATO CORREIA - O Brasil dos Meus Avós - Ed. Nacional, SP, 1927, 263 p.
149 - VISCONDE DE TAUNAY - Homens e Cousas do Império - Melhoramentos, SP, 1924, 168 p.
150 - VISCONDE DE TAUNAY - O Grande Imperador - Melhoramentos, SP, 1932, 128 p.
151 - VISCONDE DE TAUNAY - Pedro II - Ed. Nacional, SP, 1933, 244 p.
152 - VISCONDE DE TAUNAY - Reminiscências - Melhoramentos, SP, 1923, 218 p.
153 - VISCONDE NOGUEIRA DA GAMA - Minhas Memórias - RJ, 1893, 193 p.
154 - WALLACE DE OLIVEIRA GUIRELLI - Brasil poderá voltar a ser Monarquia em 1993 - Campinas D Fato, 1989
155 - WALTER SPALDING - Dom Pedro Segundo e a poesia popular - Anuário do Museu Imperial, vol. XV, Petrópolis, 1954
156 - WANDERLEY PINHO - Política e Políticos no Império - Impr. Nacional, 1930, 176 p.
157 - WANDERLEY PINHO - Salões e Damas do Segundo Reinado - Martins, SP, 1942, 314 p.

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22 - AÍ VEM O IMPERADOR!

Por ocasião do centenário do nascimento de D. Pedro II, em 2 de dezembro de 1925, toda a imprensa publicou reportagens, artigos e estudos históricos sobre o nosso grande Imperador. Finalizando esta coletânea, transcrevemos o artigo do famoso jornalista e polemista Carlos de Laet, publicado na “Revista da Semana” de 28/11/1925:

Ninguém, nos tempos que correm, pode imaginar, de longe sequer, o mágico efeito que, durante largos anos, produziam no povo brasileiro estas palavras, muito embora freqüentemente repetidas:
— Aí vem o Imperador!
Não sei se pela extensa duração da autoridade longamente exercida por esse homem, ou se, talvez, pelo conjunto de raras qualidades físicas e morais, que nele se realizaram, certo é que enorme foi o seu influxo sobre a mentalidade popular. Festa a que não comparecesse o Imperador considerava-se de segunda ordem, e sua presença, que aliás ele não regateava, era sempre um incentivo para maior freqüência em qualquer solenidade.
Singelo em seus modos e declarado inimigo de toda pragmática fútil e ociosa, o Imperador dominava as reuniões em que aparecia, e naturalmente se constituía o centro de todas as atenções.
Raro era o dia em que não o viam aplicado a visitas demoradas e profícuas às oficinas dos arsenais e das indústrias particulares, aos colégios e sociedades científicas, aos quartéis, às fortalezas, aos navios, às obras públicas em construção, a toda parte, enfim, onde houvesse que examinar, fiscalizar e animar qualquer dos ramos da atividade nacional.
Entre as minhas recordações da meninice estão as repetidas aparições do Imperador no Colégio Pedro II. Todos nos alvoroçávamos e, entre desejosos e timoratos, aguardávamos que pela nossa aula entrasse aquele vulto que, com sua elevada estatura, formosa barba semi-alvejante e gesto de autoridade soberana, nos incutia indefinível sentimento de atração e respeito.
Invariavelmente determinava o augusto visitante fossem chamados o melhor e o pior estudante da turma. Felicitava o primeiro, quando este de ordinário se saía bem; e ao outro incumbia-se ele próprio de interrogar, insinuando-lhe as respostas e fazendo-lhe acreditar que o pobre vadio sabia alguma coisa.
Em suas relações com os mestres do Colégio, que eram então meus professores, notava eu o caprichoso apuro com que o Imperador falava em francês com o Sr. Halbout, em inglês com o Dr. Mota, em italiano com o Dr. De Simoni, em alemão com os Drs. Schiefler, Goldschmidt e Tautphoeus.
O homem que falava todas as línguas, argüía alunos em todas as matérias, e diante do qual se curvavam todas as autoridades escolares, assumia a nossos olhos as proporções grandiosas de um ente sobrenatural.
No Exército e na Armada, onde só muito mais tarde começou a grassar o mal positivista, a dedicação ao Chefe do Estado não padecia contraste sério. À bandeira e ao hino nacional unia-se a personalidade do Imperador, fornecendo a trindade representativa da Pátria. Foi ao grito de “viva o Imperador!” que os batalhões brasileiros compraram com seu sangue as grandes vitórias que de Rosas libertaram a Argentina, e de López o Paraguai.
Na Europa entre os cientistas do Instituto de França, no Egito perlustrando antigos monumentos e aconselhando a formação dos museus que depois se desenvolveram, nos Estados Unidos assombrando por sua vasta cultura intelectual e lhaneza de trato os compatriotas de Washington – em toda parte por onde passava, ia deixando o Imperador o traço nítido e imorredouro da sua poderosa individualidade.
Quando, cansada de pensar e de trabalhar pelo Brasil, desfaleceu encanecida aquela nobre cabeça, e, em nome da liberdade, se entendeu que ao longo patriarcado liberal, que foi o Segundo Império, urgia sucederem as autocracias quadrienais que constituem os governos no regime presidencial, nem mesmo assim jamais esmoreceram o respeito e veneração para com a pessoa do Imperador.
A revolução, que se lhe apresentou para intimar-lhe saísse do País, não o fez de espada nua e atitude ameaçadora, mas de cabeça descoberta e falando em nome da pacificação nacional. Era preciso exilá-lo, e não o fizeram à luz do sol, como quem executa uma sentença, e sim nas trevas da noite, como quem aproveita desoras para encobrir um crime.
No dia 15 de novembro, quando ainda o povo brasileiro ignorava o que da sua soberania tinham feito as classes armadas, vi passar em rápido trânsito, na Rua do Passeio, a carruagem que ao Paço da Cidade transportava o Imperador e a Imperatriz: ela, visivelmente impressionada, a olhar por uma das portinholas do carro; ele, sereno como sempre, fitando os transeuntes e a força militar ali estacionada para se opor à passagem dos revoltosos da Escola Militar... Tirei respeitosamente o chapéu, e respondeu-me o Soberano com amistoso aceno de mão. Foi a última vez que vi o Imperador.
Depois ele nos voltou em 1922, trazido ao Brasil pelo ato cavalheiresco do Sr. Epitácio Pessoa. Tiraram-no de bordo, lentamente o fizeram descer ao troar dos canhões e entre descargas de fuzilaria, até que finalmente aqueles restos tocassem o chão sagrado da Pátria. Estava morto o Imperador, mas ainda sua grande figura, trinta e três anos depois da catástrofe, dominava senhorilmente a imaginação popular. Parecia que o ambiente ainda se eletrizava com a aproximação desses despojos, envolvidos na saudade, mas sobre os quais pairava a indestrutível auréola de meio século de glória.
Agora ele vai de novo atravessar a cidade e volver a Petrópolis, terra onde muito viveu e que muito amou. Mortos estão quase todos os que o depuseram; mortos igualmente muitos dos que com ele colaboraram no serviço da Pátria. Pouco Importa! Há um sopro de verdade que perpassa as gerações, e que se chama tradição. Esta ainda fala ao coração popular:
Aí vem o Imperador!

***

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21 - A REPÚBLICA NASCEU COM DISPNÉIA

O Partido Republicano era uma insignificante minoria

Dom Luiz de Orleans e Bragança escreveu: “A Monarquia brasileira, no momento da catástrofe, contava um número ínfimo de adversários declarados. Ao contrário, os seus partidários e admiradores constituíam a quase totalidade da população”.
Por mais que alguns republicanos agora queiram provar que a Monarquia caía de podre, que a República era um anseio popular e que o movimento pela sua proclamação estava organizado até os ínfimos detalhes, os fatos foram bem diferentes. O Imperador e a Princesa Isabel eram respeitados e admirados pela gente humilde, que no ano anterior deixou de ser escrava. O Partido Republicano conseguiu eleger apenas dois deputados nas eleições de agosto. Nas ruas, as simpatias que conseguia angariar eram episódicas e pouco eficazes.
Cada intelectual, cada grupo, cada partido possuía uma razão própria, um descontentamento particular contra o Governo, simbolizado às vezes pelos ministros, às vezes pela Princesa Isabel, às vezes pelo Conde d’Eu e, freqüentemente, pelo próprio Imperador.

O ideal republicano não era o ideal das figuras mais representativas daquela época. O grosso das classes conservadoras, céticas ou descrentes em relação à Monarquia, tinha em certa suspeição o sistema republicano. Onde esta encontrava os seus adeptos mais fervorosos era na classe dos estudantes, entre os bacharéis novatos ou entre os “cadetes filósofos” da Escola Militar. Benjamim Constant possuía um campo de ação circunscrito entre a jovem oficialidade, mas o grande público ignorava-o completamente.
Era, com efeito, nessas classes de letrados inexperientes, cheios de entusiasmo juvenil, mas sem grandes responsabilidades sociais, e muito menos políticas, que o Partido Republicano recrutava a quase totalidade dos seus adeptos. Os próprios elementos da grande aristocracia rural, embora desgostosos com a Monarquia, não se tinham bandeado inteiramente para a República: revelavam uma certa recalcitrância em fazê-lo. Os republicanos eram, por isso, já nas proximidades de 15 de novembro, principalmente gente de cidades e vilas, e não gente do campo. É o que se depreende do testemunho insuspeito do deputado Sebastião Mascarenhas. Contestando que a expansão da idéia republicana fosse devida aos despeitos provocados pela Abolição, dizia ele, na sessão de 11 de setembro de 1888:
— Sr. Presidente, o entusiasmo com que as idéias republicanas são abraçadas em Minas não provém do despeito por causa da abolição, como entendem alguns nobres deputados e o Governo. Para provar isso, basta dizer que a maior parte dos republicanos é residente nas cidades e vilas.

A história do deputado republicano Antonio Romualdo Monteiro Manso é um bom exemplo. Eleito para ocupar a vaga deixada pelo Barão de Leopoldina, que se tornara senador, ele seria o único deputado republicano daquela legislatura, porque os três anteriores não haviam conseguido reeleger-se. No dia 6 de setembro de 1888, apresenta-se na Câmara um tipo caricato para assumir a sua cadeira. Convidado a prestar o juramento, Manso declarou:
— Não posso prestar juramento, porque é contra as minhas convicções.
Exatamente 10 palavras. E o presidente da Câmara declarou:
— Então o nobre deputado se retirará e a Câmara decidirá.
E a Câmara deliberou suprimir a obrigatoriedade do juramento, para os que alegassem convicções pessoais. Durante os 5 dias que duraram as discussões, a imprensa transformou o deputado em celebridade nacional. Convidado a assumir a sua cadeira, Manso confirmou sua declaração anterior:
— Mantenho a minha declaração de que não posso prestar juramento, por ser de encontro às minhas crenças políticas e religiosas.
Exatamente 20 palavras. Estas, mais as 10 anteriores, foram os únicos discursos que ele pronunciou, durante todo o período do seu mandato. Mas a imprensa lhe abria todas as portas: “Honramo-nos hoje dando na primeira página o retrato do ilustre democrata Dr. Monteiro Manso. Deputado republicano da importante e altiva província de Minas, ele tem sabido corresponder aos desejos de seu partido”.
Na Câmara, dado o seu mutismo e incompetência, foi interpelado:
— Ainda Sua Excelência não se dignou dizer-nos em nome de que princípio foi enviado ao seio da representação nacional. Ainda não se dignou dizer-nos se é, como muitos outros que nós conhecemos, um republicano monarquista, ou um monarquista republicano.


Uma revolta militar que não era contra o Imperador

O marechal Deodoro escreveu duas cartas ao seu sobrinho Clodoaldo da Fonseca, da Escola Militar, em 1887 e 1888, nas quais afirma:
“República? Seria coisa impossível, verdadeira desgraça. República no Brasil e desgraça completa é a mesma coisa”. Pouco depois, o mesmo homem proclamou a República...

No dia 4 de novembro, graças a um pedido de seu sobrinho, tenente Clodoaldo da Fonseca, Deodoro recebeu em sua casa um grupo de oficiais. O marechal, que padecia de dispnéia (falta de ar) devido à sua arteriosclerose, os atendeu na cama. Os militares lhe disseram que o Visconde de Ouro Preto pretendia reorganizar a Guarda Nacional – um corpo militar formado e armado por homens ricos no interior do País – e fortalecer a Polícia no Rio, para contrapô-las ao Exército. Deodoro comentou:
— Só mesmo mudando a forma de governo.
Os jovens oficiais ficaram surpresos com o comentário do marechal, e o capitão Antonio Menna Barreto arriscou uma pergunta:
— Podemos agir afoitamente no sentido de congraçarmos mais elementos?
Deodoro respondeu como quem dá uma bênção:
— Podem.

É hoje assente entre os historiadores que o marechal Deodoro somente na tarde do dia 15 de novembro aceitou a deposição do Imperador, e o fez a contragosto, instado pelos líderes republicanos. Quanto a seu irmão Hermes, que comandava as tropas na Bahia, relutou muito em aceitar a mudança de regime, só a reconhecendo a 18 de novembro, após a partida da Família Imperial para o exílio.

Se entre os “casacas” se falava de República, entre os militares a conversa dominante era a de derrubar o Ministério de Ouro Preto, e não a Monarquia. Na reunião no Clube Militar, na noite do dia 9, na mesma hora em que a Monarquia se deliciava no baile da Ilha Fiscal, em nenhum momento se colocou a necessidade de proclamar a República. Até Benjamim Constant não usou a palavra República.
A intenção de Deodoro, ao pôr-se à frente das tropas amotinadas, na manhã do 15 de novembro, não era derrubar a Monarquia, era tão-somente derrubar o Ministério chefiado pelo Visconde de Ouro Preto, contra o qual o Exército alegava sérios agravos. Tanto que, ao penetrar no Quartel General, em que estava instalado o Governo, bradou não o “viva a República” da legenda, mas sim “viva Sua Majestade, o Imperador”.
É o que relata Pedro Calmon: “O grito não foi de viva à República; nem podia ter sido. Deodoro não se pusera à frente da tropa para fazer a República. Tomara-lhe a chefia em plena marcha, para derrubar o Ministério e impor as decisões da revolução em nome do Exército e da Armada. Ao subir as escadas que conduziam ao andar superior – onde o esperava o Gabinete vencido – Deodoro, de quepe na mão, gritou `viva Sua Majestade, o Imperador’. É o que nos contam José Bevilacqua, Cândido Rondon, o embaixador do Chile na sua correspondência”.
O mesmo afirma a Princesa Isabel, nas singelas e despretensiosas notas autobiográficas, que intitulou “Alegrias e Tristezas”, e foram publicadas na íntegra pela “Tribuna Imperial”, de Petrópolis: “O marechal Deodoro da Fonseca, descontente com o Ministério, nada mais desejava, então, senão derrubá-lo. No dia da sublevação, entrou com suas tropas no Quartel General, dando vivas ao Imperador”.

Ao entrar na sala do Quartel General, Deodoro cumprimentou primeiro seu primo, o ministro da Guerra, Visconde de Maracaju. Em meio ao maior silêncio, o marechal fez um discurso intempestivo. Dirigindo-se a Ouro Preto:
— Vossa Excelência e seus colegas estão demitidos por haver perseguido o Exército. Os senhores não têm nem nunca tiveram patriotismo. Patriotismo tem tido o Exército, e disso deu provas exuberantes durante a campanha do Paraguai.
O marechal lembrou ainda os três dias e noites que passou no meio de um lodaçal, durante a guerra. Impassível, o Visconde de Ouro Preto ouviu tudo sem interromper. Depois, disse a Deodoro:
— A vida política, senhor general, tem também os seus dissabores. E a prova disso tenho neste momento, em que sou obrigado a ouvi-lo.
O marechal demitiu o Ministério e afirmou que Ouro Preto e Cândido de Oliveira, ministro da Justiça, ficariam presos até serem deportados para a Europa. E concluiu:
— Quanto ao Imperador, tem a minha dedicação, sou seu amigo, devo-lhe favores. Seus direitos serão respeitados e garantidos.
Disse também que encaminharia uma lista de nomes do novo Ministério a D. Pedro II. De República, nada falou.


Uma geringonça aos solavancos, proclamando a República

O embaixador da França relatou ao seu país, na ocasião da proclamação da República: “Dois mil homens, comandados por um soldado revoltado, bastaram para fazer uma revolução que não estava preparada, ao menos para já. Informações particulares permitem afirmar que os próprios vencedores não previam, no começo do movimento, as condições radicais que ele devia ter”.

Quanto à organização das forças que derrubaram de supetão a Monarquia, elas lembravam mais uma geringonça andando aos solavancos do que um trem bem azeitado. O dia 15 foi repleto de lances de confusão, de líderes que deram shows de hesitação (a começar por Deodoro), de liderados que acreditaram em boatos e saíram de quartéis pensando que estavam apenas derrubando o Ministério.

Benjamim Constant estivera com Deodoro, no dia 14 de novembro, e estava desolado. Ao descer do bonde no Largo de São Francisco, encontrou por acaso Aristides Lobo e Francisco Glicério, e lhes deu péssimas notícias sobre o estado de saúde do marechal.
— Creio que ele não amanhece, e se ele morrer a revolução está gorada. Os senhores, civis, podem salvar-se, mas nós, militares, arrostaremos as conseqüências das nossas responsabilidades.

Na tarde do dia 15, ao perambular pela cidade e constatar que pouquíssimas pessoas falavam de República, Constant percebeu o quanto a situação era esdrúxula. Encontrando o jornalista republicano Aníbal Falcão com um grupo de amigos, na Rua do Ouvidor, disse-lhes:
— Agitem o povo, que a República não está proclamada.
Aníbal Falcão redigiu uma confusa moção, dizendo que “o povo, reunido em massa, fez proclamar o governo republicano”. E conseguiu colher cerca de 100 assinaturas do “povo em massa”.

A dificuldade realmente intransponível era fazer Deodoro aceitar um ministério presidido por Silveira Martins, que fora indicado ao Imperador pelo Visconde de Ouro Preto. Eram inimigos desde o tempo em que o marechal serviu no Rio Grande do Sul, quando disputou com Silveira Martins as graças da Baronesa do Triunfo. Somente ao saber, já de noite, através de Benjamim Constant, que o Imperador havia nomeado Silveira Martins para a chefia do Ministério, Deodoro teria se resolvido a aceitar a instauração do regime republicano. Também se tentou que Deodoro fosse ter um encontro pessoal com D. Pedro II, mas o marechal recusou-se com estas palavras:
— Se eu for, o velho chora, eu choro também, e está tudo perdido.
A Princesa Isabel confirma: “A idéia de chamar para formar ministério a Silveira Martins, seu inimigo mortal (uma vez que Ouro Preto estava preso, e, solto sob palavra, pediu demissão), facilitou o trabalho dos republicanos que o cercavam, os quais aproveitaram-se do descontentamento da situação e conduziram-no à República”.

O marechal Deodoro jamais contestou que, até às vésperas de 15 de novembro, tivesse servido devotadamente ao Imperador. A sua adesão às idéias de Benjamim Constant data, talvez, de 10 a 12 daquele mês. Certo dia, já presidente, recebeu Deodoro no Itamarati um cavalheiro que alegava ser republicano de longa data, batendo-se pela República desde 1875.
— Pois eu, meu caro senhor, não dato de tão longe. Sou republicano de 15 de novembro; e o meu irmão Hermes, de 17!

Deodoro era presidente da República, quando o convidaram para visitar o ateliê de Rodolfo Bernardelli, no qual se achava, quase concluído, o quadro representando a proclamação da República. Na tela, a sua figura aparece montando um bonito cavalo. Ele se voltou para os que o acompanhavam, e comentou:
— Vejam os senhores... Quem lucrou, no meio de tudo aquilo, foi o cavalo!


A multidão não participou, nem aplaudiu a República

Raramente uma revolução havia sido tão minoritária. Partindo do centro para a periferia, que republicanismo poderia existir no vasto Império brasileiro?91 A sintomática ausência de apoio popular ao golpe de 15 de novembro foi ressaltada por diversas testemunhas.

Arthur Azevedo, que viu o cortejo militar do dia 15 de novembro, afirma: “Os cariocas olhavam uns para os outros pasmados, interrogando-se com os olhos, sem dizer palavra. Na Rua 1º de março a passeata desfilou em silêncio, com Deodoro tentando manter-se ereto na sela e apresentando sintomas de recrudescimento de sua doença cardíaca”.

O Conde de Weisersheimb, embaixador da Áustria no Rio, comunicou a Viena, em despacho feito cinco dias após a proclamação da República: “A grande massa da população, tudo quanto não pertencia ao Partido Republicano, relativamente fraco, ou à gente ávida de novidades, ficou completamente indiferente a essa comédia, encenada por uma minoria decidida”.

O Visconde de Pelotas constatou a mesma indiferença: “A Nação foi estranha a esse acontecimento, que aceitou como fato consumado. A sua indiferença foi injustificável, como ainda agora está sendo diante de novas ocorrências, e as conseqüências deste erro não se farão esperar muito”.

O conspirador Aristides Lobo registrou na imprensa paulista: “O povo assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava. Muitos acreditavam sinceramente estar vendo uma parada”.

Capistrano de Abreu, que não era político, relatou ao Barão do Rio Branco como assistira aos acontecimentos. Vindo do Campo de Santana, ficara “impressionado depois de ter visto uma revolução. Só há uma palavra que reproduz o que vi: empulhamento. Levantou-se uma brigada, chegaram os batalhões um a um, sem coesão, sem atração, sem revolução, e foram-se encostando um ao outro, como peixe na salga. Quando não havia mais batalhão ausente ou duvidoso, proclamou-se a República, sem que ninguém reagisse, sem que ninguém protestasse”.

Segundo Joaquim Nabuco, a proclamação da República exerceu, sobre a população atônita, um efeito similar ao do tiro de Caramuru entre os assombrados indígenas.

Entre os próprios conspiradores, a figura digna e honrada do Imperador era um empecilho aos seus projetos. Em uma das reuniões preparatórias do movimento republicano, a 6 de novembro, em casa de Benjamim Constant, assentavam-se planos quando Benjamim indagou:
— E que faremos do “nosso Imperador”?
Um silêncio profundo foi a resposta. A figura bondosa e justa do Monarca infundia respeito a todos aqueles conspiradores, impedindo uma resolução. Quebrou o silêncio o tenente Manuel Inácio:
— Exila-se!
— E se resistir?
— Fuzila-se! – declarou o tenente.
Todos se levantaram, numa reprovação. Refletindo a repugnância de todos, Benjamim exclamou:
— Oh! O senhor é sanguinário! Pelo contrário, devemos cercá-lo de todas as garantias e considerações, porque é um nosso patrício, e muito digno.

Tanto Benjamim Constant como Deodoro deviam grandes favores pessoais ao Imperador. Ordenado o embarque da Família Imperial, procuravam atordoar-se com as responsabilidades que acabavam de assumir, esquecendo assim a ingratidão praticada. Pela manhã do dia 17, estava Benjamim no seu gabinete no Ministério da Guerra, quando lhe foram comunicar que o Monarca já se achava a bordo. Ele se deteve um instante e comentou:
— Está cumprido o mais doloroso dos nossos deveres.

Interrogado por um jornalista em Lisboa, sobre o embarque apressado que a Família Imperial foi obrigada a fazer, o Conde d’Eu afirmou:
— Disseram que não nos queriam expor ao furor popular. Porém, o que há de exato é que os revoltosos estavam convencidos de que o povo aclamaria o Imperador, se porventura o visse na rua.


O Congresso da República, inaugurado como enterro de primeira classe

Magoaram profundamente o Imperador as atitudes de alguns revolucionários, por ocasião da proclamação da República. No seu exílio em Paris, ele se lamentou em presença do Conde Afonso Celso:
— A História me fará justiça, eis a minha fé consoladora. Atribuíram-me frases que não proferi, atos que não pratiquei. Aceitei os acontecimentos, sereno e resignado. Uma coisa única me incomodou deveras: o aparato da força desenrolada em torno do Paço da Cidade. Soldados a pé e a cavalo, guardando todas as portas, apontando para mim e para a minha família armas ameaçadoras, como se fôssemos réus e capazes de nos evadirmos. Não bastava, para segurança deles, a minha palavra? Havia um oficial de cavalaria que observava da praça todos os meus movimentos, acompanhando-me como uma sombra, se eu passava de uma sala para outra. Senti ímpetos de sair à rua para lhe dizer: “O sr. não me conhece, certamente. Não sou homem que fuja, ou me oculte. Não se moleste por minha causa. Fique tranqüilo, que me encontrará sempre no lugar que me compete”.

Um artigo atribuído a Oliveira Martins, e transcrito no “Journal des Débats”, coloca nos seguintes termos a questão da dotação de cinco mil contos de réis, recusada pelo Imperador, mas noticiada por Rui Barbosa como tendo sido aceita: “Enquanto o velho Soberano se achava entre o Brasil e a Europa, isolado no mar, sob a placidez estrelada da noite do Atlântico, a sua consciência de homem justo não lhe exprobrou decerto essa falta de caráter com que o Sr. Rui Barbosa o maculava pelo telégrafo. Depois disso, o Imperador chegou a Lisboa, e o mundo soube que uma das suas primeiras palavras foi a denúncia do crime de uma falsidade”.

O Imperador D. Pedro II tinha grande prestígio nos Estados Unidos. O seu amor à liberdade, a sua atividade, a singeleza da sua pessoa, impressionaram sempre os americanos.
Os discursos pronunciados no Senado americano, quando se discutiu o reconhecimento da República brasileira, consistiram quase que exclusivamente, não no elogio dos vencedores, mas na exaltação das virtudes do grande vencido. O governo americano foi o último, de todos os governos do novo continente, que reconheceu a República no Brasil; e se inspirou, de certo, para essa demora, na frieza, na quase hostilidade com que a imprensa recebeu a revolução. O correspondente do País, em Nova York, rememorava estes fatos, insistindo na pouca simpatia que os americanos manifestavam pela nova ordem de coisas no Brasil.
O presidente dos Estados Unidos, Harrison, declarou que a impressão deixada pelo Imperador durante sua viagem àquele país, em 1876, fora de tal maneira favorável no espírito do povo americano, que ele não estava disposto ao reconhecimento do novo Governo, antes de aguardar alguma manifestação da opinião pública brasileira.

No seu primeiro dia de existência, a 15 de novembro de 1890, teve o Congresso intuição inteira e exata da vida que o esperava, do seu destino, do seu papel, do seu futuro.
Atopetada a sala de gente, repletos o recinto e as galerias, tudo permaneceu impassível, gélido, imóvel, sem um grito, sem um viva, sem um movimento espontâneo, sem uma aclamação, sem um frêmito, enquanto o secretário, a custo e a poder de copos d’água, lia, lia a interminável mensagem presidencial que falava em nome da Providência e da espada!
Terminada a melopéia, cada qual foi se esgueirando muito caladamente, tomando o seu chapeuzinho de adesista ou de histórico, com uma convicção bem arraigada:
— Qual... aqui não está o povo! Procurem-no em qualquer outra parte. Nesta sala, não!
Um dos corifeus do novo regime disse:
— É impossível assistir-se a cerimônia mais lúgubre. Parecia um enterro de primeira classe!


A República logo mostrou as suas garras

Rui Barbosa foi um dos articuladores da proclamação da República, mas dela logo se desiludiu. Em um discurso no Senado, em 17.12.1914, ele critica a República e exalta o Imperador D. Pedro II. O texto é bastante conhecido, mas poucos sabem o contexto em que se insere, porque a citação é sempre apresentada isolada:
“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto. Essa foi a obra da República nos últimos anos. No outro regime, o homem que tinha certa nódoa em sua vida era um homem perdido para todo o sempre – as carreiras políticas lhe estavam fechadas. Havia uma sentinela vigilante, de cuja severidade todos se temiam e que, acesa no alto, guardava a redondeza, como um farol que não se apaga, em proveito da honra, da justiça e da moralidade”.

Já nos primeiros anos da República, o marechal Deodoro estava tão cansado diante da impossibilidade de vencer a desordem, que disse:
— Vou mandar chamar o dono da casa.
E mandou um emissário ao Imperador exilado, que respondeu:
— Se me chamarem, voltarei. Conspirar, nunca!

O sociólogo Gustave Le Bon traçou de nossa terra este quadro vergonhoso: “Um só país, o Brasil, tinha escapado a essa profunda decadência dos povos sul-americanos, em virtude de um regime monárquico que colocava o governo ao abrigo das competições. Depois o país ficou entregue a uma completa anarquia, e em poucos anos a gente incumbida do poder dilapidou de tal maneira o Tesouro, que os impostos foram aumentados em proporção desmedida”.
Com a proclamação da República, foram rapidamente implantados em nossa terra a carestia de vida, a dívida pública interna e externa multiplicadas, o déficit assoberbado em todos os orçamentos, o desequilíbrio econômico e financeiro, os compromissos aterradores do erário, o descrédito da Nação, juntando-se a todos esses males o domínio nefando das paixões políticas, a ambição das altas posições, a mania das dissipações, o culto à politicagem, à burla eleitoral, e o modo elétrico de enriquecer uns tantos nababos, ontem sem eira nem beira, apenas com o recurso da esperteza!

Não se precisa mais do que folhear as páginas de nossa História para ver como, no tempo do Império, era bem mais adiantada que nos dias de hoje a mentalidade dos nossos políticos e dos nossos dirigentes. Essa República, como ela aí está, é uma traição que se fez ao País. Proclamaram a República em nome da liberdade, e em nome da República suprime-se a liberdade. Substitui-se uma dinastia honesta por vinte e duas oligarquias ferozes e vorazes que, na União e nos Estados, sorvem-nos, gota a gota, todas as nossas energias.

A República custou caro ao Brasil. As flutuações do câmbio, que da taxa de 28, que vigorava em 1889, baixou até a de 6; o aumento enorme da dívida pública, ocasionado pela megalomania implantada em todos os departamentos da administração; a multiplicação dos cargos públicos e das sinecuras – tudo isto trouxe como conseqüência o agravamento incessante dos impostos.


A proclamação da República implantou na realidade uma ditadura

Quando falaram a D. Pedro II sobre a possibilidade da proclamação da República, ele comentou:
— Então vocês verão o que é “poder pessoal”...
De fato, vinte e quatro anos após a proclamação da República, o senador Muniz Freire analisava o novo regime:
“O País anda entregue às tenazes de um sistema que não é mais do que o poder pessoal universalmente organizado. Poder pessoal praticamente irresponsável do Presidente da República. Poder pessoal dos indivíduos, famílias ou facções que se assenhorearam dos Estados. Pior, muito mais direto, muito mais ofensivo, muito mais em contato com a carne do que o outro. Poder pessoal dos chefes políticos. O Império desmoronou-se, o poder pessoal do Monarca foi destruído, e no seu lugar surgiu essa vegetação daninha de poderes pessoais muito mais intoleráveis.
O objetivo do poder pessoal que hoje domina em toda a parte é de garantir aos seus detentores, suas famílias, seus parentes e sequazes o emprego que fornece o ganha-pão, ou a posição que dá o prestígio à sombra do qual aumentam os bens e se fazem as fortunas. Honradamente, quando se é honrado, e por todos os meios, mesmo os mais cínicos e criminosos, quando não se possui escrúpulo, nem probidade, nem decoro. O Brasil político pode ser considerado um agregado de ventres”.

O Visconde de Pelotas, escrevendo em 1890 ao Visconde de Ouro Preto sobre a proclamação da República, declara: “O pronunciamento da guarnição do Rio, que deu como resultado a proclamação da República, surpreendeu-me mais do que a V. Exa., que dele teve aviso horas antes. Não julgava possível a República enquanto vivesse o Imperador, e daí a minha surpresa. Se de mim tivesse dependido a sua permanência como Chefe da Nação, afirmo-lhe que não teria sido deposto. A República teve contra si haver sido feita por um pronunciamento militar, representado pela quinta parte do Exército”.

Os revolucionários foram uns 300 militares do Exército e da Armada. Com 14 milhões de habitantes, o Brasil tinha um Exército composto de 13 mil homens, entre oficiais e praças. O golpe que derrubou a Monarquia foi tramado e executado por militares, que só na última hora convidaram os civis a entrar na conjura. As tropas com as quais contavam os rebelados não passavam de 500 homens. A superioridade numérica da ordem era esmagadora.
Um republicano e conspirador, Aristides Lobo, deixou registrado sobre o 15 de novembro, em artigo para a imprensa paulista: “Por ora, a cor do governo é puramente militar, e deverá ser assim. O fato foi deles, deles só, porque a colaboração do elemento civil foi quase nula”.
No fim da tarde, o desencantado redator ocupou o Ministério do Interior do Governo Provisório, caminho que o levaria a perceber, pouco depois, que aquela não era a República dos seus sonhos.

Benjamim Constant era um dos “bacharéis de farda”, militar “dublê” de filósofo positivista. Não cuidava e possivelmente pouco entendia das coisas de sua profissão. Chegara ao posto de tenente-coronel comandando uma escola de cegos, o que há de menos militar neste mundo. Fora daí, não desenvolvia outra atividade que não fosse ensinar matemática na Escola Militar e propagar doutrinas positivistas pelos cafés da Rua do Ouvidor. Republicano por sectarismo filosófico, ele era a alma do pequeno grupo de conspiradores que fazia pressão sobre a vontade amolecida de Deodoro.

Quando foi a Versalhes, para se despedir de D. Pedro II, o Conde Afonso Celso mencionou o nome de Benjamim Constant:
— Talvez Vossa Majestade ignore que ele faleceu doido. É o que afirmam testemunhas fidedignas.
— Já me tinham contado. Pobre homem! Conheci-o muito e o apreciava. Acredito que nos últimos tempos houvesse sofrido perturbações das faculdades mentais. Dessa maneira posso explicar o seu procedimento para comigo, de quem se mostrava tão afeiçoado. Não creio que a ambição o tivesse arrastado. Sua posição sob o Império era mais invejável do que a de um funcionário do governo militar. Era querido e respeitado de todos. Deve ter padecido extraordinariamente, se conservou a posse da razão. Sensível como era, a consciência da responsabilidade no descalabro nacional o deve ter torturado. Caso tenha agido com sinceridade e discernimento, a perda das ilusões, tão rápida e completa, certamente lhe infligiu punição atroz.


Apesar da propaganda republicana, dorme um monarquista em cada brasileiro

Instalados no poder sem apoio da opinião pública, os republicanos logo sentiram necessidade de adotar medidas ditatoriais para silenciar a oposição monarquista, e assegurar desse modo a própria permanência no governo.
Nos cem anos durante os quais vigorou a proibição de sequer falar-se em Monarquia, o País foi programaticamente induzido a esquecê-la. Diretrizes governamentais de todos os tipos, explícitas ou dissimuladas, foram adotadas nesse sentido. Substituíram Pedro I por José Bonifácio, na iconografia oficial da Independência, mas a figura do Patriarca não calou fundo, além do que ele próprio era um defensor da Monarquia. Então, o papel de Tiradentes foi enfatizado e realçado a um grau nem sempre compatível com a realidade histórica. Ainda e sempre, para esconder ou minimizar o papel de Pedro I – um monarca – no processo da Independência.
Desde os primeiros dias da República, os autores de livros didáticos para os cursos primário e secundário, segundo critério de orientação e exigências do Ministério da Educação, passaram a só estampar o retrato de Pedro II com as longas barbas brancas e o aspecto cansado dos seus últimos anos de vida, para associar à Monarquia a imagem de velhice, decrepitude e coisa antiga. Esses mesmos livros tratavam, e ainda hoje tratam, de evidenciar as glórias da proclamação da República, o heroísmo de Deodoro e o idealismo dos seus companheiros, como se tivessem participado de uma feroz batalha em prol da liberdade.

Monteiro Lobato compara o procedimento das pessoas no tempo do Império com o que passou a vigorar na República:
“Dom Pedro II agia pela presença. O fato de existir no ápice da sociedade um símbolo vivo e ativo da honestidade, do equilíbrio, da moderação, da honra e do dever, bastava para inocular no País em formação o vírus das melhores virtudes cívicas.
O juiz era honesto, se não por injunções da própria consciência, pela presença da honestidade no trono. O político visava o bem comum, se não pelo determinismo de virtudes pessoais, pela influência catalítica da virtude imperial. As minorias respiravam, a oposição possibilitava-se: o chefe permanente das oposições estava no trono. A justiça era um fato: havia no trono um juiz supremo e incorruptível. O peculatário, o defraudador, o político negocista, o juiz venal, o soldado covarde, o funcionário relapso – o mau cidadão, enfim – muitas vezes passava a vida inteira sem incidir num só deslize. A natureza o propelia ao crime, ao abuso, à extorsão, à violência, à iniqüidade, mas sofreava as rédeas aos maus instintos a simples presença da eqüidade e da justiça no trono.
Foi preciso que viesse a República, e que se alijasse do trono a força catalítica, para patentear-se bem claro o curioso fenômeno. O mesmo juiz, o mesmo político, o mesmo soldado, o mesmo funcionário, até 15 de novembro honesto, bem intencionado, bravo e cumpridor dos deveres, percebendo ordem de soltura na ausência do imperial freio, desenfrearam a alcatéia dos maus instintos mantidos de quarentena.
Daí o contraste, dia a dia mais frisante, entre a vida nacional sob Pedro II e a vida nacional sob quaisquer das boas intenções quadrienais que se revezam na curul republicana.
Pedro II era a luz do baile: muita harmonia, respeito às damas, polidez de maneiras, jóias de arte sobre os consolos, dando o conjunto uma impressão genérica de apuradíssima cultura social.
Extinguiu-se a luz: as senhoras sentem-se logo apalpadas, trocam-se tabefes, ouvem-se palavreados de botequim, desaparecem as jóias”.

No interior do município de Bagé, no Rio Grande do Sul, alguns anos após a proclamação da República, um cidadão idoso perguntou a um viajante, que por ali passava e lhe pedira pousada:
— E como vai a política? O Imperador já está bom?
— O Imperador?! Mas ele já morreu, e desde 1889 estamos com a República proclamada!
— Mesmo?! Coitado do Imperador! Era tão bom! Por que fizeram essa injustiça?
O viajante procurou justificar o ato de Deodoro, mas o velho não se conformava:
— Coitado do Imperador! Era um santo!
Novas explicações sobre o que era a República e o que significava. O velho campeiro, porém, estava longe do mundo e indiferente a tudo, pela distância e isolamento em que se encontrava. Não podia conceber o fato consumado. Finalmente, encerrando a palestra, desabafou:
— É por isso que tudo vai tão mal... Coitado do Imperador!

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13.6.08

20 - DONA AMÉLIA DE LEUCHTENBERG - NOSSA SEGUNDA IMPERATRIZ

Firmeza de atitudes da jovem Imperatriz Da. Amélia

No Palácio de São Cristóvão, depois da bênção de núpcias de D. Pedro I com Da. Amélia de Leuchtenberg, o Imperador lhe apresentou os seus filhos. Com afetuosidades de comover, D. Amélia cobriu de abraços carinhosos, maternalmente, as princesinhas e o príncipe herdeiro.
De repente, D. Pedro lembrou-se de sua filha adulterina, e pediu à Marquesa de Itaguaí:
— Minha boa Francisca, vá buscar a duquesinha de Goiás.
Aquela ordem foi um choque. Da. Amélia estremeceu. Secou-lhe bruscamente o sorriso nos lábios. Com voz firme, fitando o Imperador nos olhos, disse:
— Majestade! Poupe-me a dor dessa apresentação. Eu quero ser mãe dos filhos de D. Leopoldina. Mas unicamente dos filhos de D. Leopoldina. Eu não quero conhecer – nem sequer conhecer! – a filha bastarda da Marquesa de Santos. Peço a Vossa Majestade, portanto, que faça retirar imediatamente essa menina do Paço. É o primeiro pedido, senhor D. Pedro, que a Imperatriz faz ao Imperador.
Sem esperar resposta, incisiva e decidida, ordenou:
— Marquesa, vá avisar às açafatas que a Duquesa de Goiás deve sair já deste Paço. Que preparem as malas.
Atônita, D. Francisca não sabia o que fazer. Olhou para D. Pedro, suplicando uma decisão. D. Pedro balbuciou apenas:
— Cumpra as ordens da Imperatriz, Marquesa.

Francisco Gomes da Silva, conhecido como “Chalaça”, era um indivíduo de péssimos costumes, e exerceu funesta influência sobre o Imperador D. Pedro I. Durante algum tempo, seu poder no Paço era quase absoluto. Era necessário removê-lo, mas ninguém se sentia com ascendência para pedir isso ao Imperador.
O Marquês de Barbacena, chamado ao Paço, ouviu de D. Pedro:
— Meu Barbacena, o Chalaça, como Vossa Excelência sabe, tem trabalhado com afinco nos meus negócios particulares. É de uma dedicação rara. Eu preciso, portanto, dar uma prova de amizade a ele. Vossa Excelência conhece a paixão que ele tem por dignidades. Vamos, por conseguinte, satisfazer-lhe a vaidade. Mande lavrar um decreto concedendo-lhe o título de marquês.
— Marquês?! O Chalaça?!
— Sim, meu Barbacena. E por que não?
— Perdão, Majestade, mas é necessário ponderar um pouco. Esse decreto é uma temeridade. É um ato comprometedor. Fazer do nosso vulgaríssimo Chalaça um marquês, é graça verdadeiramente escandalosa. Vossa Majestade vai irritar o País com tão acintosa mercê. Como Primeiro Ministro, não referendo esse decreto.
— Não referenda?
— Não! Não referendo. E digo mais. Se Vossa Majestade quiser conservar-me no Ministério, há de fazer a mim esta mercê, que reputo essencial à moralidade e ao prestígio do Trono: despedir o Chalaça. Mandar o Chalaça embora do Brasil.
Nisto, abre-se a porta e entra no salão Da. Amélia. Logo D. Pedro lhe comunica, risonho:
— Sabe? Aqui o Barbacena está me pedindo uma graça incrível.
— Uma graça? Então é necessário concedê-la já. Não se pode negar coisa alguma ao nosso Barbacena.
— Mas é preciso ver o que pede o Barbacena...
— Que há de ser, meu Deus?!
— Um disparate! A saída do Chalaça do Brasil.
D. Amélia toma então ares sérios. Pensativa e grave, diz:
— O nosso Marquês tem razão. Esse homem precisa sair do Império.
— Que diz a minha Imperatriz?
— Digo que o Chalaça precisa sair daqui. Vossa Majestade perdoe, mas eu digo mais: esse tipo é abominável. Eu o detesto, e detesto-o porque ele desmoraliza o Paço. Porque prejudica o Império. Porque impopulariza o regime. Porque compromete Vossa Majestade.
A Imperatriz e o Primeiro Ministro foram implacáveis. Ao final, cedendo às evidências, D. Pedro decidiu conceder ao Chalaça uma missão diplomática em Nápoles.

Da. Amélia de Leuchtenberg, segunda esposa de D. Pedro I e Imperatriz do Brasil, amou os filhos de Da. Leopoldina de toda a alma, como o prometera, com desvelos de mãe. No dia da abdicação de D. Pedro I, ela escreveu uma carta ao pequenino D. Pedro II, então com 6 anos: “Não me pertences senão pelo amor que dediquei ao teu augusto pai. Mas quero-te como se fosses o sangue do meu sangue. Um dever sagrado me obriga a acompanhar o ex-Imperador, no seu exílio, através os mares, em terras estranhas. Adeus, pois, para sempre!”
Dirigindo-se às mães brasileiras, fez então uma súplica comovente: “Mães brasileiras, vós que sois meigas e carinhosas para com vossos filhinhos, supri minhas vezes: adotai o órfão coroado, dai-lhe, todas vós, um lugar na vossa família e no vosso coração. Entregando-o a vós, sinto minhas lágrimas correrem com menor amargura”.

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12.6.08

19 - IMPERATRIZ LEOPOLDINA - O BRASIL INDEPENDENTE LHE DEVE GRATIDÃO ETERNA

Participação decisiva da Imperatriz Leopoldina na nossa Independência

A atitude de D. Leopoldina, defendendo os interesses brasileiros, acha-se eloqüentemente estampada na carta que escreveu a D. Pedro I, por ocasião da Independência do Brasil: “É preciso que volte com a maior brevidade. Esteja persuadido de que não é só o amor que me faz desejar mais que nunca sua pronta presença, mas sim as circunstâncias em que se acha o amado Brasil. Só a sua presença, muita energia e rigor podem salvá-lo da ruína”.

Os historiadores reconhecem a grande participação que teve D. Leopoldina nos acontecimentos que prepararam a Independência. São expressivos os textos de algumas das cartas que ela escreveu nos dias ansiosos que precederam o 7 de setembro de 1822:
“Fiquei admiradíssima quando vi de repente aparecer meu esposo, ontem à noite. Ele está mais bem disposto para os brasileiros do que eu esperava, mas é necessário que algumas pessoas influam mais, pois não está tão positivamente decidido como eu desejaria.
Dizem que as tropas portuguesas o obrigarão a partir. Tudo então estaria perdido, e torna-se necessário impedi-lo. Os ministros vão ser substituídos por filhos do País, que sejam capazes. Muito me tem custado alcançar tudo isso. Só desejaria insuflar uma decisão mais firme”.

Vasconcelos Drummond, amigo dos Andradas e participante direto dos acontecimentos, afirma: “Fui testemunha ocular, e posso asseverar aos contemporâneos que a Princesa Leopoldina cooperou vivamente, dentro e fora do País, para a Independência do Brasil. Debaixo desse ponto de vista, o Brasil deve à sua memória gratidão eterna”.
Mulher superior ao seu tempo, D. Leopoldina trouxera para o Brasil missões científicas, prestigiara a vinda de sábios, tais como Emanuel Pohl e von Martius, que pode ser considerado como o primeiro estrangeiro a revelar à Europa o Brasil.

Dom Pedro I lançara, na colina do Ipiranga, o grito famoso que fez independente o Brasil. Dias depois, nos salões repletos do Paço, reclamava ele que lhe trouxessem fitas verdes, pois queria que todos usassem o laço das cores representativas do Brasil livre. Vendo que ainda faltavam alguns distintivos, voltou-se alegremente para Dona Leopoldina, perguntando-lhe:
— Não haverá mais fitas verdes no palácio?
Sorrindo, ela respondeu que não; mas, ainda assim, dirigiu-se aos seus aposentos, para mais uma busca. Abriu e remexeu quantas gavetas encontrou, mas nada de fitas verdes. Já desanimava, e dispunha-se a voltar ao salão com as mãos vazias, quando seus olhos caíram sobre o leito, cujas fronhas ostentavam, a correr pelos ilhoses do bordado, fitas da cor procurada. Não se deteve a pensar. Arrancou-as todas e voltou ao salão, ruborizada e feliz, para distribuir os distintivos. Em seu entusiasmo, exclamou:
— Não havia mais fitas verdes, mas arranquei as dos travesseiros de minha cama!
Imediatamente, sentindo o silêncio que se fizera, corou. Viu que ninguém se sentia digno da honra de tais distintivos. No meio daquela indecisão, o primeiro a dar um passo para a frente foi Antonio de Menezes Vasconcelos Drummond. Dona Leopoldina estendeu para ele a mão, que segurava um laço verde. E sobre aquela mão e aquele laço se inclinou a cabeça do patriota, que beijou os dedos de Leopoldina, exclamando:
— Obrigado, Majestade!
Era a primeira vez que se dava a Dona Leopoldina esse título.


A Imperatriz Leopoldina, modelo de vida familiar e cristã

Francisco I, pai da Imperatriz Leopoldina, fez chegar a D. Pedro I, por intermédio da embaixada austríaca, estas recomendações: “Recomendo-vos que peçais ao meu genro que faça respeitar a Religião e promover os bons costumes. Se tomar estes conselhos, não é necessário preocupar-se com constituições. Esta é a melhor constituição, a constituição prática. As outras são teorias impraticáveis e quiméricas”.

Narra Vasconcelos Drummond que, já em 1824, a tropa pretendia forçar a abdicação de D. Pedro I, e só a veneração que tinham à Imperatriz Leopoldina é que pôde demovê-los do seu intento. Foi então que lhe ofereceram secretamente a coroa, ao que ela respondeu:
— Sou cristã, e dedico-me inteiramente ao meu marido, aos meus filhos. Antes de consentir num semelhante ato, eu me retirarei para a Áustria.

D. Pedro I fez D. Domitila Marquesa de Santos e Primeira Dama da Imperatriz. Numa recepção de gala, ante a corte estupefata, D. Leopoldina soube tratá-la com amabilidade. Quando lhe apresentaram a pequenina Duquesa de Goiás, fruto da leviandade do marido, a Imperatriz, com um sorriso triste, passando lentamente a mão sobre a cabecinha loura da criança, e com os olhos ligeiramente umedecidos, disse:
— Tu não tens culpa, minha filha!

Jacques Arago era um bom jogador de bilhar, e D. Pedro I desafiou-o. D. Leopoldina, receosa de que a irascibilidade do marido pudesse dar motivo a cenas desagradáveis, aproximou-se de Arago e solicitou-lhe em voz baixa:
— Deixe-o ganhar algumas partidas. Meu marido é bastante colérico.
No entanto, o francês resolveu ganhar, deixando que D. Pedro perdesse com brilho. Mas ele não se conformou, e daí surgiu uma das muitas cenas de ira da vida do Imperador.

A primeira tentativa de uma colonização não portuguesa, baseada na pequena propriedade, foi formada em Nova Friburgo, em 1819, com suíços de língua francesa e alemã, e reforçada posteriormente por alemães. Fracassou em conseqüência de o terreno ser pouco favorável, da falta de habilitação dos imigrantes para a agricultura, e de boas comunicações com a capital. Muitos colonos transferiram-se para o Rio, fomentando o artesanato local, ou alistaram-se nos corpos estrangeiros, enquanto as mulheres trabalhavam como enfermeiras ou empregadas. Muitas famílias chegaram ao extremo da miséria, tanto que as crianças saíam a pedir esmolas pelas ruas. D. Leopoldina esvaziou várias vezes seus cofres pessoais para acorrer às viúvas e aos órfãos. Era este um dos motivos pelos quais ela se viu moralmente obrigada a contrair dívidas secretamente, para poder socorrer os necessitados.

A Imperatriz Leopoldina não se interessava por roupas caras e enfeites, mas era uma inveterada gastadora, pois seu bom coração a levava muitas vezes a distribuir esmolas da sua própria dotação a todos os que sofriam e vinham apelar para a sua magnanimidade. Com isso ela gastava mais do que podia. Quando morreu, em 1826, verificou-se que tinha algumas dívidas, decorrentes de suas obras de caridade. A Assembléia Legislativa sentiu-se honrada em mandar efetuar o pagamento desses débitos deixados pela Imperatriz.

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11.6.08

18 - DOM PEDRO I, LIBERTADOR DA NAÇÃO

A personalidade de D. Pedro I nas vias da Independência

Quando veio ter a D. Pedro o decreto das Cortes portuguesas, ordenando-lhe o imediato regresso à pátria, a conspiração pela independência já estava feita. O resultado, logo o tivemos a 9 de janeiro de 1822:
— Se é para bem de todos e felicidade geral da Nação, diga ao povo que fico.
Estava começada a luta. Daí por diante, o Príncipe é de uma vigilância, de uma atividade, de uma decisão que nada consegue abater. D. Pedro tinha a atração dos perigos. Resolvido a adotar a causa brasileira, perdeu todas as vacilações que antes o prendiam nos seus movimentos. Seguiu o seu caminho resolutamente, impavidamente, até o desfecho de 7 de setembro.

A atitude das Cortes de Lisboa em relação ao Brasil havia congregado os patriotas, deliberados a emancipar a antiga colônia com ou sem o auxílio do Príncipe Regente. As combinações para isso marchavam céleres, multiplicando-se os emissários especiais entre São Paulo e Rio, estabelecendo ligações para o grande movimento libertador.
Incumbido pelos patriotas do Rio de ir a São Paulo com uma mensagem verbal aos conspiradores, o capitão Pedro Dias Pais Leme, que foi mais tarde Marquês de Quixeramobim, entendeu que era seu dever, como amigo do Príncipe, passar na Quinta da Boa Vista e narrar-lhe o que se tramava.
D. Pedro ouviu com calma a narrativa, e ao fim, em vez de agradecer-lhe ou dar-lhe qualquer ordem, pôs-se a falar de viagens e caçadas. Até que, a certa altura, chegando à janela, começou a olhar o horizonte, no rumo do Sul. E apontando-o a Pais Leme, disse:
— Que belo dia para se viajar!
O oficial compreendeu tudo. Beijou, comovido, a mão do Príncipe, desceu rapidamente as escadas, montou a cavalo, e partiu a galope.

Dentre as influências que recebeu D. Pedro I, conduzindo-o a proclamar a Independência, destaca-se a da Imperatriz. A convivência diária com D. Leopoldina ampliava muito o horizonte de D. Pedro I, que escutava atento, com interesse, o que ela contava de sua terra natal, da corte vienense, de Napoleão, da política e história européias, dos monarcas no Velho Mundo, etc. A cultura de D. Leopoldina impressionava D. Pedro. Era o meio que lhe garantira, após conquistar a confiança do marido, uma ascendência crescente sobre o seu irrequieto espírito. Para o bem da verdade histórica, convém frisar que D. Pedro, apesar da pouca instrução, não ficava alheio aos assuntos científicos e intelectuais.


D. Pedro I e o senso da oportunidade na política

O Brasil havia vencido a guerra da Independência, mas faltava Portugal reconhecê-la oficialmente. Travou-se então uma batalha diplomática, na qual a Inglaterra, maior potência de então, entrava como fiel da balança, e também impondo seus interesses. Para reconhecer a independência, a Inglaterra exigia que o Brasil lhe pagasse 1,4 milhão de libras esterlinas devidas por Portugal, e mais 600 mil libras de indenização a Portugal, além de um contrato comercial vantajoso. D. Pedro I reuniu o Conselho de Ministros, presidido pelo Visconde de Barbacena, e transmitiu a proposta. O ministro da Guerra objetou:
— Mas é um recuo, Majestade! Depois da luta, depois de vencidos todos os estorvos, e já senhores do País, vamos nós agora voltar para trás? Vamos pagar, em dinheiro, o que já conquistamos com sangue? Por quê? Não há motivo que justifique.
— Neste caso, Senhor Ministro, a Inglaterra intervém a favor de Portugal.
— E que mal há nisto, Majestade? Se a Inglaterra intervier, nós enfrentaremos a Inglaterra. Nós nos bateremos até a última gota de sangue.
— Mas enfrentar com o quê, Senhor Ministro? Nós não temos nada. Enfrentar com o quê?
— Enfrentar de qualquer jeito, Majestade.
D. Pedro ficou furioso. Viu nitidamente que o espírito brasileiro não admitia acordos. Se entre os próprios ministros havia aquela absurda atitude patrioteira, que barulhada não haviam de fomentar os deputados? À vista disso, D. Pedro resolveu o caso temerariamente. Assinou dois tratados. Um ostensivo, público, pelo qual D. João VI reconhecia simplesmente a independência do Brasil. Mas assinou também outro, secreto, pelo qual o Brasil se obrigava a pagar 2 milhões de libras e a fazer com a Inglaterra novo tratado de comércio.
D. Pedro cumpriu a palavra. Pagou a dívida e assinou o tratado. O seu ato se ressente de uma ilegalidade clamorosa. Mas essa ilegalidade foi a mais abençoada das que praticou, pois permitiu-lhe alicerçar a sua grande obra. Evitou a guerra, serenou as agitações patrióticas, não se derramou mais uma gota de sangue. E criou afinal um império. O Brasil, como por encanto, apareceu como nação livre aos olhos do mundo, e isto se deveu à ousadia e temeridade do Imperador.

O major Luiz Alves de Lima e Silva, futuro Duque de Caxias, ofereceu a D. Pedro I, dias antes da abdicação deste em 7 de abril de 1831, os planos da reação contra as agitações que se avolumavam. O Imperador os recusou nos seguintes termos:
— O expediente proposto é digno do major Lima e Silva, mas não o aceito, porque não quero que por minha causa se derrame uma só gota de sangue brasileiro. Portanto, siga o major a sorte de seus camaradas reunidos no Campo de Santana.

No momento supremo da abdicação, quando era intimado a demitir o Ministério, D. Pedro I respondeu:
— Diga ao povo que recebi a representação. O Ministério passado não merece a minha confiança, e do atual farei o que entender. Sou constitucional, e caminho com a Constituição. Admitir o mesmo Ministério, de forma alguma. Isto seria contra a Constituição e contra a minha honra. Prefiro abdicar.
Foram os nossos dirigentes, depois de 15 de novembro de 1889, que implantaram o desrespeito à Constituição, e a infringiram tanto que acabaram reduzindo-a a um maço de papéis esfarrapados. Nenhum dos nossos presidentes da República teve o espírito constitucional de D. Pedro I ou de D. Pedro II, e foram eles que deram ao povo o exemplo de violar a Magna Carta do País.

Em 1831, se D. Pedro I desembainhasse sua invencível espada, a uma só palavra, a um só aceno seu, ondas de sangue tingiriam nossas praças, e as fúrias de uma indômita guerra civil invadiriam o Império inteiro, talvez por longos anos. A sua abdicação espontânea teve ainda a vantagem de arrancar o Brasil ao estigma de revolucionário. Foi a coroa devolvida na ordem da sucessão, segundo o direito fundamental, e por ato legal e voluntário do Imperante. Não houve combate, nem sangue nem resistência.
Testemunha ocular dos fatos afirma que durante os dias em que D. Pedro I esteve a bordo da nau inglesa, recebeu valiosíssimos oferecimentos de algumas das mais leais espadas. Agradecendo, pediu a todos que as reservassem para defesa do trono de seu filho, acrescentando:
— Desde que livremente abdiquei, o desembainhar a minha espada já não seria ato de rei, mas de rebelde.

O reinado de D. Pedro I figura, sem dúvida, como uma grande página da história nacional. A opinião de Armitage é expressiva: “Apesar de todos os erros do Imperador, durante os dez anos de sua administração o Brasil fez certamente mais progressos em inteligência do que nos três séculos decorridos do seu descobrimento à proclamação da Constituição Portuguesa de 1820”.
As fortunas não se originavam de favores recebidos da Coroa. Eram a conseqüência do esforço hercúleo, do trabalho, do cultivo do solo e da conquista das florestas e das terras do interior. E por isso a sociedade, no tempo de D. Pedro I, foi honesta, sem venalidade.


Cenas da vida de D. Pedro I em família

Naquela noite de 2 de dezembro de 1825, todo o Palácio de São Cristóvão estava ansioso e em grande expectativa. A Imperatriz Leopoldina ia dar à luz, e todos desejavam um príncipe, que seria o herdeiro da coroa. O Dr. Guimarães Peixoto saiu um pouco, para tranqüilizar a todos, e anunciou a D. Pedro:
— Tudo normal. Pode Vossa Majestade sossegar. Não há incidente nem complicação. Mais um pouquinho de paciência, e terá logo um novo príncipe nos braços.
— O seu palpite, doutor?
— Para mim, desta vez, é homem. Para mim, não resta dúvida. É príncipe.
— Príncipe?! Pois se for homem, meu caro doutor, pode pedir o que quiser, e lhe será concedido.
— Tenho a palavra de Vossa Majestade?
E voltou para os aposentos de D. Leopoldina. Algum tempo depois, sai o médico com brados de júbilo:
— É príncipe, Majestade! É príncipe!
Havia nascido D. Pedro II. O Dr. Guimarães Peixoto tinha a promessa de D. Pedro I. Podia pedir o que quisesse, mas foi muito modesto. Solicitou uma simples comenda para um filho. Fiel à palavra, o Imperador criou esse comendador de 6 anos de idade.

Chegando de uma viagem ao exterior, o Visconde de Barbacena foi ao Palácio de São Cristóvão visitar o Imperador. E um dos primeiros cuidados deste, com a amizade que votava ao discreto titular, foi mostrar-lhe o Príncipe Imperial, que seria Pedro II, e tinha apenas dois anos de idade:
— Este será bem educado, hás de ver. Eu e o mano Miguel havemos de ser os últimos malcriados da família.

D. Pedro I recebeu de Minas um belo cavalo, e resolveu dá-lo ao pai. Quando foi entregar o presente, D. João VI já havia sido prevenido pela maledicência dos adversários do Príncipe, que diziam que o cavalo era velhaco, e que o derrubaria na primeira ocasião. Disse então ao filho:
— Sim, Pedro. Já sei tudo. Queres dar-me um cavalo velhaco, que me derrube. Monta-o tu.
D. Pedro ofendeu-se. Montando o cavalo, gritou que ninguém mais o montaria, e saiu num galope furioso, até o arrebentar.

Depois da abdicação, e já a bordo da nau Warspite, que o levaria para a Europa, D. Pedro I escreveu ao seu filho D. Pedro II, que tinha apenas 6 anos: “Muito estimarei que esta o ache com saúde, e adiantado nos estudos. Sim, meu amado filho, isso é muito necessário, para que você possa fazer a felicidade do Brasil. Lembre-se sempre de seu pai, ame a sua e minha Pátria, siga os conselhos que lhe derem aqueles que cuidarem da sua educação, e conte que o mundo o há de admirar, e que eu me hei de encher de ufania por ter um filho digno da Pátria”.


Impetuoso e de bom coração, um Príncipe de medida incomum

Deveria partir para o Sul um corpo de caçadores alemães, a fim de reforçar o exército brasileiro que lá batalhava sob as ordens do Marquês de Barbacena. D. Pedro I ordenara que o Tesouro efetuasse o pagamento dos soldos atrasados dos mercenários. À última hora, estando já o batalhão embarcado, foi D. Pedro avisado pelo oficial encarregado de recolher a quantia do Tesouro, que os funcionários não queriam fazer o tal pagamento. D. Pedro se encolerizou e dirigiu-se para o Tesouro, empunhando grossa chibata. Momentos depois fazia entrada impressionante na sala onde se achavam os funcionários responsáveis pelo não cumprimento da ordem imperial. Sobre esses, que se encolhiam temerosos, despejou o Soberano uma avalanche de censuras, seguida de golpes de chicote.

D. Pedro I passeava pelos arrabaldes do Rio, seguido por grande escolta, quando o cavalo que montava perdeu uma das ferraduras. Procurou o ferrador mais próximo e confiou-lhe o trabalho. Apenas esse começara o serviço, sentiu-se rudemente empurrado pelo Imperador, que lhe disse numa voz irritada:
— Sai daí, porcalhão, que não sabes o teu ofício.
E ele mesmo, o Imperador, em pouco tempo ferrou o animal.

Resolvida a morte de João Guilherme Ratcliff, por sua participação na Confederação do Equador, o presidente do tribunal que o julgou levou a D. Pedro I a sentença de morte, para assinatura. Era um documento longo, minucioso e violento, em que a vítima era tratada com insolência e desprezo. Devolvendo o papel, para o alterarem, rugiu:
— Não assino! Morra o homem, que é quanto basta, mas não o insultem numa sentença!

Passeando a cavalo, em companhia da Imperatriz, D. Pedro I deparou com três homens, um dos quais estava no chão, sem sentidos. Eram marinheiros americanos, cujo navio estava ancorado no Rio. Um deles fora atirado ao chão pelo cavalo, e os outros dois não sabiam o que fazer. O Imperador se aproximou, prestando ao ferido os cuidados necessários. Quando o viu voltar a si, deu providências para que fosse internado num hospital, para tratamento mais adequado.

Fernando de Almeida, empresário teatral, havia mandado vir da Europa uma companhia dramática, que chegou ao Rio em 1829, no dia exato em que faleceu o empresário. Abandonada a companhia, os artistas lastimavam-se por toda parte, como um rebanho que tivesse perdido o pastor. Um desses atores se queixava, quando ouviu, de repente:
— E não estou eu aqui?
Era D. Pedro I. Nesse mesmo dia, nomeou uma comissão para dirigir oficialmente a companhia.

Quando soube da decisão de D. Pedro I de terminar a aventura com a Marquesa de Santos, o Marquês de Queluz foi um dos primeiros a patentear a sua alegria, dizendo ao Imperador:
— Caístes como homem, mas vos erguestes como herói, e a admiração da Europa será a vossa recompensa.

A bordo do navio Warspite, após a abdicação, D. Pedro I teve notícia das aclamações que o seu filho recebera no dia 9 de abril, nas ruas do Rio de Janeiro. E suspirou então:
— Há pouco, iguais vivas retumbaram em honra minha. Possa a fortuna ser mais fiel a meu filho.

Evaristo da Veiga, ao receber a notícia da morte de D. Pedro I, a quem ele tanto combatera, escreveu num julgamento que se antecipava ao da posteridade:
“O ex-Imperador do Brasil não foi um príncipe de ordinária medida, e a Providência o tornou um instrumento poderoso de libertação, quer no Brasil, quer em Portugal. Se existimos como corpo de Nação livre, se a nossa terra não foi retalhada em pequenas repúblicas inimigas, onde só dominasse a anarquia e o espírito militar, devemo-lo muito à resolução que tomou de ficar entre nós, de soltar o primeiro grito de nossa Independência”.
Não foi um príncipe de ordinária medida, mas uma prodigiosa natureza humana, um ser de escândalo e contradição, cuja vida, tão breve, se marcou de rasgos generosos que lhe redimem erros e pecados.

Ao tomar conhecimento da morte de D. Pedro I, em 1834, José Bonifácio exclamou:
— D. Pedro não morreu. Só morrem os homens vulgares, e não os heróis!

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10.6.08

17 - DOM JOÃO VI - BOM ADMINISTRADOR E GRANDE AMIGO DO BRASIL

D. João VI construiu no Brasil um monumento administrativo

Foi moda, durante muito tempo, difamar D. Pedro I e zombar o mais possível do bom Rei D. João VI, a quem o Brasil deve sua organização autônoma, suas melhores fundações de cultura e até seus devaneios de grandeza.
D. João VI tem sido, até hoje, muito mal julgado no Brasil. É uma pena. Comparadas as suas virtudes com os seus defeitos, aquelas sobrepujam a estes vantajosamente. Ele foi o Monarca português que olhou o nosso País com maiores simpatias, e que melhores benefícios lhe prestou. Não foi o que se pode chamar um grande Soberano, de quem seja lícito referir brilhantes proezas militares ou golpes audaciosos de administração. O que ele fez, o que conseguiu, não foi pouco. Conseguiu-o pelo exercício combinado de dois predicados que denotam superioridade: um de caráter, a bondade; o outro de inteligência, o senso prático ou de governo. Foi brando e sagaz, insinuante e precavido, afável e pertinaz. O D. João VI medíocre, incapaz de qualquer ação governativa, aparvalhado, ridículo, dominado sempre pela vontade alheia, é uma lenda que foi introduzida no espírito do povo, e que provavelmente ainda há de durar por muito tempo, mas que o estudo calmo e consciencioso de nossa História demonstra não ser absolutamente verdade.
Durante o primeiro período do reinado de D. João, entre nós, o Conde de Linhares dirigiu os negócios do Estado e as coisas da administração, com autonomia quase absoluta. Ora, o Conde de Linhares era um dos estadistas portugueses mais afeiçoados ao Brasil. D. João o sabia, e por isso mesmo o escolheu, como escolheu depois o Conde da Barra, como escolheu mais tarde Tomás Antonio, o homem que tinha a coragem de dizer: “O Brasil é independente, e nenhuma nação da Europa o pode atacar com vantagem”.

O governo de D. João VI fez raiar para a América portuguesa uma nova era. Abriram-se os nossos portos ao comércio das nações estrangeiras. Instituíram-se os serviços de higiene. Estabeleceram-se o ensino médico, o curso de agricultura, a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, o curso de cirurgia. Criaram-se o Supremo Conselho Militar de Justiça, a Intendência Geral de Polícia, o Arquivo Militar do Brasil, a Mesa do Desembargador do Paço, a Junta de Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação, o Museu Real, a Academia das Artes, a Academia de Desenho, Pintura, Escultura e Arquitetura Civil, a Biblioteca Pública. Decretou-se a liberdade de manufaturas e indústrias em todo o território nacional. Concedeu-se aos nossos habitantes o privilégio de não serem executados na propriedade dos seus engenhos, fábricas e lavouras, e sim em uma parte dos rendimentos. Isentaram-se de direitos os livros impressos e as matérias primas que servissem de base a quaisquer indústrias manufatureiras. Instalou-se o correio entre as nossas várias províncias. Criou-se o Banco do Brasil. Promoveu o Governo a publicação do primeiro jornal que aqui se editou, a “Gazeta do Rio de Janeiro”. Elevou-se o Brasil à categoria de Reino.
D. João VI foi mal compreendido e ridicularizado, mas foi ele quem erigiu em nossa Pátria esse colossal monumento administrativo.


O bom Rei D. João VI na intimidade

O famoso pintor Debret conta que no dia do casamento da Princesa Leopoldina com o então Príncipe D. Pedro I, ao conduzi-la para o quarto nupcial, disse-lhe D. João VI:
— Penso que este quarto, embora mobiliado simplesmente, ser-vos-á agradável.
De fato assim o foi. O primeiro objeto com que a Princesa deparou foi um busto do Imperador da Áustria, seu pai, que D. João tivera a lembrança de fazer vir de Viena. Ante a emoção que dominou D. Leopoldina, o Príncipe Regente tomou-lhe as mãos, e com os olhos enternecidos prosseguiu:
— Como sois instruída, não posso pretender oferecer-vos qualquer obra desconhecida, mas estou certo de que achareis prazer em percorrer este volume que vos ofereço.
A Princesa, já comovida, abriu o livro e viu que continha uma coleção de retratos de todos os membros de sua família, que D. João mandara buscar na capital austríaca. Chorando, D. Leopoldina beijou agradecida a mão do sogro, feliz em ver a alegria daquela que vinha unir-se aos destinos do Brasil.

Passando um dia pela Rua dos Ourives, D. João VI ouviu gritos lancinantes que partiam de uma loja. Fez parar a carruagem e chamou dois negros que trabalhavam, ordenando-lhes que chamassem o dono da casa. Momentos depois este vinha ao encontro de Sua Majestade, quebrado em dois, numa eloqüente atitude de submissão.
— De onde vêm esses gritos? – perguntou D. João.
— É uma de minhas escravas, a quem estou fazendo chicotear.
— Que fez ela?
— Ela me roubou açúcar.
— Quantas chicotadas ela deve receber?
— Cento e cinqüenta.
— Quantas já recebeu?
— Oitenta e duas.
— Eu te peço o perdão pelo resto.
— Obedecerei a Vossa Majestade.
— Eu te agradeço – disse D. João, fazendo um gesto ao cocheiro para que pusesse a carruagem em movimento.
Não estava ainda o Rei longe, quando novamente ouviu os gritos da preta. Fez voltar o carro, chamou o impiedoso senhor e, como punição, libertou a escrava.

D. Francisco de Almeida, Conde de Galveias, foi uma das figuras mais simpáticas da corte. Era desleixado, e raramente se barbeava. Num dia de festa, quando se apresentou perante D. João VI com a barba crescida, este lhe disse:
— Mas D. Francisco, nem hoje, dia de meus anos, fizeste a barba?
— Por que não fez Vossa Majestade anos anteontem, que foi o dia em que me barbeei?

Quando a segurança do trono estava em jogo, D. João VI se transfigurava. São elucidativas a este respeito as declarações do Visconde do Rio Seco. Chamando-o às pressas, no momento do embarque da Corte para o Brasil, D. João mandou que se retirassem todas as pessoas do gabinete, e depois de fechadas as portas, disse:
— Mandei-te chamar para prevenir que não cumpras ordem de pessoa alguma, ainda que fale em meu nome. Ordem minha, só de viva voz.
Os cofres das preciosidades que trouxe vieram na própria nau de Sua Majestade, trazendo ele mesmo todas as suas chaves.

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8.6.08

16 - SAUDADES DA PÁTRIA - A FAMÍLIA IMPERIAL NO EXÍLIO

A Família Imperial a caminho do exílio

Martim Francisco de Andrada, quando D. Pedro II ainda era criança, vaticinou:
— Há de ser um digno e útil cidadão. Quando, porém, o Brasil não precisar mais dele, levá-lo-á ao embarcadouro e o despedirá. Os bons hão de chorá-lo, e os maus hão de insultá-lo.

Nos momentos angustiosos da partida para o exílio, D. Pedro II proferiu as seguintes palavras:
— Pois se tudo está perdido, haja calma. Eu não tenho medo do infortúnio!

Na sua viagem para o exílio, ao passar diante da última terra brasileira que veriam, os membros da Família Imperial decidiram enviar um pombo com uma mensagem, assinada por todos. Um criado escolheu um dos pombos mais vigorosos, que lhe pareceu capaz de transpor a distância que os separava da costa. D. Luiz de Orleans e Bragança, que tinha então 11 anos de idade, relatou depois, no livro “Sob o Cruzeiro do Sul”, as suas lembranças do episódio:
“Um pouco além de Cabo Frio – lembro-me como se fosse hoje – meu avô, querendo dar ao Brasil uma prova do seu inalterável amor, fez-nos soltar um pombo, em cujas asas ele próprio havia amarrado uma última mensagem. À vista da terra ainda próxima, a ave largou o vôo; mas um longo cativeiro lhe havia sem dúvida alquebrado as forças. Depois de haver lutado alguns momentos contra o vento, esmoreceu e vimo-lo cair nas ondas”.
O bilhete dizia: Saudades da Pátria.

No dia 2 de dezembro de 1889, o aniversário do Imperador foi comemorado a bordo do navio “Alagoas”, em que viajava para o exílio após a proclamação da República. Ao jantar, a mesa foi ornamentada com flores, gentileza do Comandante Pessoa, que bebeu pela saúde do Imperador. Este respondeu, brindando “à prosperidade do Brasil”. Do seu lugar, a Princesa Isabel levantava também a taça, brindando “ao papai”. Ele replicou:
— Menina! Ouça o meu brinde: À prosperidade do Brasil!

Já na Europa, D. Pedro II teve conhecimento da resolução do Governo Provisório de banir definitivamente a Família Imperial do território brasileiro. Perguntado se não pensava em lançar um manifesto, ele afirmou:
— O meu manifesto será a minha vida.
Ao repórter do “Tempo”, em Lisboa, repetiu:
— Manifesto? Sou eu, enquanto viver. É a minha pessoa. Sou eu próprio.

Ao chegar a Portugal, como exilado, Dom Pedro II ouviu de um jornalista:
— Vossa Majestade aqui não é um proscrito. Todos vos estimamos e respeitamos.

O Conde Afonso Celso narra a visita de condolências que ele e seu pai, o Visconde de Ouro Preto, fizeram a D. Pedro II por ocasião da morte da Imperatriz:
“Era modestíssimo o seu quarto. A um canto, cama desfeita. Em frente, um lavatório comum. No centro, larga mesa coberta de livros e papéis. Um sofá e algumas cadeiras completavam a mobília. Tudo frio, desolado e nu.
Os joelhos envoltos num cobertor ordinário, trajando velho sobretudo, D. Pedro II lia, sentado à mesa, um grande livro, apoiando a cabeça na mão. Ao nos avistar, acenou para que nos aproximássemos. Meu pai curvou-se para beijar-lhe a mão. O Imperador lançou-lhe os braços aos ombros e estreitou-o demoradamente contra o peito. Depois, ordenou que nos sentássemos perto dele. Notei-lhe a funda lividez.
Houve alguns minutos de doloroso silêncio. Sua Majestade o quebrou, apontando para o livro aberto e dizendo com voz cava:
— Eis o que me consola.
— Vossa Majestade é um espírito superior. Achará em si mesmo a força necessária.
D. Pedro não respondeu. Depois de novo silêncio, mostrou-nos o título da obra que estava lendo, uma edição recente da “Divina Comédia”. Então, com estranha vivacidade, pôs-se a falar de literatura, a propósito do livro de Dante Alighieri. Mudando de assunto, discorreu sobre várias matérias, enumerando as curiosidades do Porto, indicando-nos o que, de preferência, deveríamos visitar. Não aludiu uma única vez à Imperatriz. Só ao cabo de meia hora, quando nos retirávamos, observou baixinho:
— A câmara mortuária é aqui ao lado. Amanhã, às 8 horas, há missa de corpo presente.
Saímos. No corredor, verifiquei que o meu chapéu havia caído à entrada do aposento imperial. Voltei para apanhá-lo. Pela porta entreaberta, presenciei cena tocantíssima: ocultando o rosto com as mãos magras e pálidas, o Imperador chorava. Por entre os dedos escorriam-lhe as lágrimas, que caíam sobre as estrofes de Dante.


Falta-me o sol do Brasil

Em janeiro de 1891 o Conde Afonso Celso visitou o Imperador em Cannes, antes de iniciar uma viagem a vários países. D. Pedro o estimulou, dizendo:
— As viagens completam a educação, dilatando a inteligência, apurando as faculdades estéticas e afetivas, enriquecendo a observação e a experiência. E você vai verificar quão adiantado está em muitas coisas o nosso Brasil.
Depois, mudando de assunto, perguntou se havia recebido notícias do Brasil, vindas com o último navio que chegara.
— Sim, meu senhor.
— Então, conte-me as novidades todas.
O Imperador ouviu em silêncio tudo o que ele sabia. Em seguida, com um suspiro, comentou:
— Pois é singular. Não me chegou nenhuma notícia e nenhuma carta. É singular que ninguém mais se lembre de mim, para me dirigir duas linhas. Esqueceram-me mais depressa do que eu esperava.
— Não, meu senhor. O nome de Vossa Majestade jamais será olvidado no Brasil. Crescem cada dia o respeito e o amor públicos por Vossa Majestade.
— Mas então isso se dá de modo muito platônico e muito abstrato. Por que não me escrevem? Há pessoas cujas cartas me dariam tanto prazer...
— Talvez porque corre, e com fundamento, que o Governo ditatorial viola o sigilo da correspondência. Naturalmente as pessoas receiam comprometer-se, incorrer em punições.
— Qual! Há assuntos que não comprometem a ninguém. Nem acredito que o Governo levasse a mal que meus amigos indagassem, por exemplo, da minha saúde, e me enviassem notícias da própria. Não! É singular, é muito singular...

O Imperador exilado foi visitar seu velho amigo escritor Camilo Castelo Branco, que ficara cego.
— Console-se, meu Camilo. Há de voltar a ter vista.
— Meu senhor, a cegueira é a antecâmara da minha sepultura.
— Perdi o trono, Camilo, e estou exilado. Não voltar à Pátria é viver penando.
— Resigne-se Vossa Majestade. Tem luz nos seus olhos.
— Sim, meu Camilo, mas falta-me o sol de lá.

O embaixador do Brasil em Lisboa, Barão de Aguiar Andrade, aproximou-se do Imperador, para depor em suas mãos o cargo que dele recebera. Era uma delicada atenção, na hora da desgraça. Os olhos de D. Pedro fixaram-se nos do Barão, como a pesquisarem a sinceridade das suas palavras. Depois, na sua voz serena, o Monarca pediu ao representante do Brasil que se conservasse no seu posto, prosseguindo a sua carreira e servindo a Pátria.

Em Paris, após a proclamação da República, durante uma recepção na casa do Conde de Nioac, veio à baila o assunto da restauração do trono brasileiro. D. Pedro II interpelou o Conselheiro Ferreira Viana:
— Você acredita nisso?
— Sim, acredito. E tanto que, desde já, peço a Vossa Majestade que se comprometa a fazer-me uma graça nesse dia.
— Comprometo-me. Mas qual é a graça?
— O decreto do meu banimento, para não assistir a novo adesismo.

Certo pachá, literato muçulmano, anunciara uma conferência no Colégio Rudy, sobre literaturas orientais. Nos bilhetes de ingresso, mencionava-se que o ato seria honrado com o comparecimento de Sua Majestade D. Pedro de Alcântara, então exilado em Paris. Com efeito, à hora marcada, apareceu o Imperador, trazendo ao lado Daubrée e Levasseur, membros do Instituto de França. Houve na assembléia, já numerosa, um movimento de curiosidade e respeito. Duas meninas ofertaram-lhe um buquê com fitas verdes e amarelas. Encontrando-se com o Conde Afonso Celso, o Imperador o preveniu:
— Prepare-se para uma conferência maçante. Conheço esse pachá, e já o ouvi. Muito boa vontade, excelentes intenções, e mais nada. Vim, porque ele me convidou com empenho, e seria ofensa recusar. Como vê, não estou ainda totalmente liberto dos antigos percalços.
Durante cerca de duas horas o muçulmano, com crueldade inaudita, martirizou a paciência dos cristãos ali reunidos. Péssima pronúncia do francês, dicção incômoda, idéias corriqueiras e ênfase insuportável. À saída, o Soberano cochichou ao ouvido do Conde:
— Não lhe disse?! Confesse que sentiu saudades das conferências da Glória!


Funerais de Imperador na França republicana

Em 1891, num modesto quarto de um hotel de Paris, foi morar o ex-Imperador Pedro II. Levava consigo, num pequeno travesseiro, um punhado de terra do Brasil. Dizia que ao morrer queria que sua cabeça repousasse sobre ele. Quando sentiu que ia morrer, pediu o travesseiro, e com ele exalou o último suspiro, dizendo antes estas palavras, que foram o seu último pensamento:
— Nunca me esqueci do Brasil. Morro pensando nele. Que Deus o proteja!

O jornal “Le Jour”, por ocasião da morte de D. Pedro II, fez um elogio fúnebre em primeira página, insistindo na idéia de que era o momento de a França corresponder ao apoio que o Imperador lhe havia dado, pois fora ele “o primeiro soberano que, após nossos desastres de 1871, ousou nos visitar. Nossa derrota não o afastou de nós. A França lhe saberá ser agradecida”.
Sadi Carnot, presidente francês, decidiu prestar a D. Pedro II as honras de Chefe-de-Estado. A importância das exéquias públicas do Imperador deposto, decidida pelo governo francês, e as homenagens póstumas de que foi alvo, causaram a maior irritação no embaixador brasileiro, que representou ao Quai d’Orsay os protestos do governo republicano.
Enviados de todas as nações compareceram à fúnebre cerimônia. Na igreja da Madeleine, entre os membros do corpo diplomático, só se notou um lugar vazio – o do representante do nosso País. O Brasil oficial negou-se a tomar parte na maior glorificação do nome brasileiro!

No dia 9 de dezembro de 1891, muito cedo, apesar da chuva incessante e do vento frio, uma verdadeira multidão começou a ocupar a Praça da Madeleine e a invadir as ruas e avenidas adjacentes. Antes do meio-dia a multidão já se tornara tão compacta, que os correspondentes do “Daily Telegraph” e do “Daily Mail” escreveram: “Havia tanta gente nos funerais do Imperador quanto nos de Victor Hugo”.
Calcula-se em 200.000 as pessoas que assistiram à passagem do cortejo fúnebre.62

Joaquim Nabuco, correspondente do “Jornal do Brasil”, escreveu por ocasião das exéquias suntuosas de D. Pedro II em Paris:
“Mais do que isso, infinitamente, D. Pedro II preferia ser enterrado entre nós, e por certo que o tocante simbolismo de fazerem o seu corpo descansar no ataúde sobre uma camada de terra do Brasil interpreta o seu mais ardente desejo. Ao brilhante cortejo de Paris ele teria preferido o modesto acompanhamento dos mais obscuros de seus patrícios, e daria bem a presença de um dos primeiros exércitos do mundo em troca de alguns soldados e marinheiros que lhe recordassem as gloriosas campanhas nas quais o seu coração se enchera de todas as emoções nacionais.
Mas foi a sua sorte morrer longe da Pátria. É uma consolação, para todos os brasileiros que veneram o seu nome, ver que ele, na sua posição de banido, recebeu da gloriosa nação francesa as supremas honras que ela pôde tributar. No dia de hoje o coração brasileiro pulsa no peito da França”.

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